Quantas fotos de crianças mortas somos capazes de ver antes de enlouquecer?
Tem sido difícil dormir e trabalhar. Entrar nas redes sociais é ser impactada com imagens de crianças mortas e feridas. Quem trabalha com o noticiário recebe muitas outras imagens e vídeos que não chegam a ser publicados por diversos motivos, entre eles a indecência que envolveria exibir o corpo de uma criança completamente dilacerado, desmembrado, trucidado. O que acaba indo para o feed das redes e para as páginas de notícia é uma parte do que circula na imprensa.
Estamos testemunhando um massacre. Já seria medonho, dado o grafismo das imagens, se o massacre fosse de terroristas. Mas, nesse caso, encontraríamos um lugar para acomodar o horror; até mesmo em passagens bíblicas como "olho por olho?".
Acontece que o que estamos vendo não são corpos mortos de terroristas. São corpos de crianças, bebês, mulheres grávidas, famílias inteiras.
A sensação de impotência nos paralisa. Mais uma imagem. Outra. Uma criança chorando cheia de sangue. Outra debruçada sobre o corpo da irmã de cinco meses. Uma mãe carregando sua filha morta. Mulheres em prantos. Homens berrando. Pessoas vivas sob escombros. O olhar de uma criança coberta de sangue sentada numa escada em Gaza suplica por ajuda. Todos estamos vendo essa criança. Do que ela tem culpa?
No mundo inteiro pessoas imploram pelo cessar fogo. O Capitólio em D.C foi ocupado por parte da comunidade judaica em Washington que clamava por paz, pelo fim do massacre, pelo fim do terror.
Nada jamais justificará o que fez o Hamas há doze dias, assassinando vidas inocentes em Israel. Esses jovens não voltarão mais a seus lares. O desejo de vingança é natural, acho que todos seríamos invadidos por uma raiva desmedida se algum dos nossos fosse assassinado por um grupo terrorista. Mas matar mais inocentes não pode ser a resposta. Já são quase quatro mil vidas palestinas perdidas de forma brutal. A maior parte de mulheres e crianças. Para pegar dez, doze, vinte, cinquenta, cem terroristas que seja? É indecente, imoral, inexplicável, degradante, abjeto.
O presidente estadunidense voa para Israel e valida a guerra mais uma vez. Como esmola, oferece 100 mil dólares de ajuda humanitária a Gaza. Ganham muito dinheiro a cada bomba arremessada sobre cabeças civis em Gaza porque mais munição será vendida a Israel, pegam uma ridícula parte desse lucro e enviam como ajuda humanitária para os mesmos que eles bombardeiram sem parar. A tal esmola humanitária talvez não chegue a Gaza. Depende de Israel e Egito decidirem deixar entrar.
A verdade incontornável é que cercou-se uma população de 2,3 milhões de pessoas numa faixa de terra de 42 quilômetros de extensão por uma média de oito quilômetros de largura, impede-se que saiam de lá e bombardeiam sem parar há onze dias. Israel, Estados Unidos, Inglaterra e França assinam o massacre assistindo ao vivo por pessoas no mundo inteiro.
O resultado imediato já é sentido: aumento do antissemitismo, aumento da islamofobia, ódio a Israel, ódio a Palestina. A milhares de quilômetros dali pessoas se agridem por julgarem estar em lados opostos.
É preciso ter cuidado aqui porque o antissemitismo já gerou um genocídio. O antissemitismo não pode ser tolerado. Separar as ações sanguinárias de um líder psicopata como Netanyahu da população de Israel. Assim como não somos o bolsonarismo eles não são Netanyahu e sua fome de vísceras. A maior parte de nós, aliás, é anti-bolsonarista. Há agora mesmo cidadãos israelenses lutando contra o governo e pedindo cessar fogo. Alguns deles fazem isso mesmo tendo perdido familiares para o terrorismo do Hamas. E uma parte imensa da comunidade judaica do planeta berra por paz.
Até quando suportaremos esse massacre sem que haja um levante?
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