No Cruzeiro, Ronaldo joga a bomba de uma eventual queda no colo da torcida
É sempre difícil escrever sobre Ronaldo. Pelo menos para mim. É ídolo. É um dos poucos fora-de-série que vi presencialmente em campo. Fui a quase todos os jogos no Pacaembu quando ele defendeu o Corinthians. Vê-lo de pertinho, mesmo fora de forma e pesado, era ter algum entendimento do sagrado. A maneira como recebia a bola, como dominava, como corria apenas o necessário, como passava sem olhar, como finalizava. Um gênio na completa acepção da palavra. É só colocar "gols de Ronaldo pelo Corinthians" no buscador da Internet para acessar esse portal.
Já como dirigente, Ronaldo é um fenomenal atacante.
Comprou o Cruzeiro e colocou sua empresa para ajustar as contas. Planilhas e mais planilhas. Corte de gastos. Manda embora quem custa caro. Mesmo que seja ídolo, não importa. Manda embora sem festa nenhuma porque festa custa e isso aqui não é mais bagunça. Agora é SAF, é gestão. Um dos que saíram e era ídolo pode ser campeão da Libertadores vestindo outro manto e sendo celebrado por outra torcida.
Montou um time compatível com o que as planilhas mandaram. Boicotou o Mineirão porque, vocês sabem, custos e gastos e despesas e não vale mais a pena, e a administração do Mineirão não quer colaborar e paciência, querida torcida, vamos para outro lugar e vai dar tudo certo porque não é mais bagunça isso aqui.
Faz tempo que o Cruzeiro não consegue jogar um futebol minimamente competitivo. O uniforme, um dos mais bonitos do mundo, está perto de outra vez protagonizar a série B. A sala dos executivos que pensam o futebol em suas camisas sociais deve estar em polvorosa. O que fazer agora? Tragam aquela outra planilha, façam uma nova, nossa gestão é eficiente, vamos dar um jeito, os números não mentem, aumenta o ar-condicionado porque o calor aqui em BH está infernal, mais café, passou das seis, whisky!
Como as planilhas não podem explicar o fracasso da gestão em campo, Ronaldo resolveu dizer que se a torcida não comparecer o time vai cair.
Eu acho graça. Depois de terem feito tudo errado, a culpa é de quem não tem culpa alguma: a torcida. Essa que já não pode mais pagar pelo ingresso caro, que foi privada do Mineirão, que viu seus ídolos serem mandados embora, que já não tem ídolo para chamar de seu. A culpa é dela.
Se essa super eficiente gestão quer que a torcida lote o Mineirão vai ser preciso inclui´-la de algum jeito nas fórmulas e nas planilhas para além do escopo "cliente-consumidor-sócio". Ingressos a dez reais e treinos abertos seriam um caminho. Mas precisa antes perguntar para algum executivo se a planilha autoriza esse tipo de bagunça.
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