Milly Lacombe

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Corinthians feminino: lições de honra, humildade e resistência

O time feminino do Corinthians, apesar dos títulos e das glórias em campo, foi abandonado pela torcida depois de se manifestar contra a violência de gênero por ocasião da contratação, pelo masculino, de um treinador condenado por envolvimento no estupro de uma adolescente. As jogadoras foram agredidas verbalmente, ameaçadas nas redes sociais, receberam as costas e a frieza do elenco do CT ao lado que veste a mesma camisa, não foram parabenizadas pelos jogadores pela conquista da Libertadores e nem pela goleada histórica sobre o grande rival, o Palmeiras.

A atual diretoria, demovida do poder pelos sócios na véspera da final, não fez nada para apoiá-las publicamente e Duílio Monteiro Alves, o presidente em exercício, disse mais de uma vez que não se importava de 2023 ser um ano sem títulos para o Corinthians porque ele estava arrumando a casa. "Um ano sem títulos" ele disse, deixando claro que desconsidera o time feminino.

O Corinthians feminino fez então o que podia fazer diante do isolamento dentro do clube: se manifestou e voltou a treinar. Jogou, deixou a alma em campo, venceu. Agora, sem Arthur Elias, jogando de forma diferente, parece seguir sua trilha vitoriosa.

Na final desse domingo, contra o São Paulo, foi grande. A torcida esteve presente e foi presenteada. Quarenta mil pessoas; 40 mil pessoas; 40.000 pessoas.

Em campo, vi mudanças bastante significativas em relação ao time de Elias: Jaqueline titular e aberta na esquerda (fez uma partidaça, aliás), Tamires solta pelo campo, Portilho um pouco mais recuada mas também com muita liberdade, só duas jogadoras atrás: Tarciane e Mariza. Yasmin, que é convocada por Elias, ficou no banco até o segundo tempo. Do lado de lá, a boa atacante Ariel infernizando no mano a mano a zaga corintiana. Arriscado. O time da casa atacava com oito, às vezes dez, e deixava aberto o contra-ataque. Jogo pegado e tenso, mas o Corinthians foi muito superior no primeiro tempo e em boa parte do segundo.

O São Paulo, organizado e sem baixar a cabeça com a pressão, foi atrás do resultado e fez seu gol, mas, nesse domingo, o time feminino do Corinthians estava abençoado por uma torcida em transe que, mesmo diante do gol tricolor, cantou forte e cantou alto. No final, 4x1 e só não foi mais porque Carlinha, goleira tricolor, é craque.

O que não mudou com a saída de Elias: o espírito corintiano que manda deixar o alma em campo e disputar todas as bolas como se fossem as últimas. Um time unido, batalhador, entregue e guerreiro. A cada disputa de bola vencida pelo Corinthians, a explosão da torcida. Time e arquibancada nesse diálogo sagrado que fala de paixão e entrega. Tudo o que falta ao masculino sobra ao feminino.

No sábado, véspera da final, o Corinthians elegeu seu novo presidente. Uma eleição marcada pelo debate de gênero, pela atuação das mulheres nos bastidores, pela exposição de preconceitos de lado a lado e pela consciência de que não mais passarão. Augusto Melo esteve presente nessa final. Espero sinceramente que tenha compreendido a força do futebol feminino e o potencial da ala feminina da torcida do time que ele agora comandará. Augusto Melo, presta atenção, muito respeito com as mina do Timão.

O Corinthians sobrevive em suas conselheiras, torcedoras e jogadoras.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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