Na Vila, o melhor do Dinizismo: liberdade, loucura e solidariedade
Haverá, num futuro nem tão distante, uma teoria Dinizista de jogo. Teses e dissertações. Artigos e debates. Como objeto de estudo, a maneira inovadora de movimentação em campo criada por Fernando Diniz.
Em Santos, contra um desesperado Peixe, o Fluminense teve a calma dos que nada mais têm a ganhar e muito menos a perder no campeonato. Talvez por isso a cartilha do Dinizismo foi implementada desde o primeiro minuto, o que nem sempre acontece.
Toques curtos e rápidos. Time amontoado de um dos lados, alguém aberto pelo outro. Movimentação constante, marcação alta, marcação média, marcação baixa. Toque de bola para atrair o adversário para a própria área. Goleiro joga. Time faz a emboscada e sai tocando. De repente, está na área adversária.
Dinizismo é um sistema ofensivo mas igualmente defensivo. Todos marcam. Todos voltam. Solidariedade é o lema. Na Vila, o Flu estava desfalcado de Marcelo (Diogo Barbosa entrou). Estava desfalcado de Felipe Melo (Tiago Santos jogou de zagueiro, outra inovação de Diniz). Samuel Xavier não jogou, Guga foi muito bem na função. O Fluminense que diziam que tiraria o pé fez uma apresentação artística no sagrado gramado da Vila.
No primeiro tempo, o Santos não viu a bola e passou 45 minutos dentro de uma roda de bobo. No segundo, o Santos veio a fim de pressionar alto e teve boas chances de diminuir, mas foi o Flu que saiu num contra-ataque matador. O Dinizismo se organiza para jogar também no contra-ataque. Quando, no segundo tempo, o Santos dominou e chegou bem, Fabio fez defesas impressionantes.
Eu ia escrever que entendo que haja quem não goste do Dinizismo, mas estou entendendo menos a cada dia. Quem não gosta repete as mesmas críticas: é vulnerável, é frágil, fica muito com a bola (bem, o segundo tempo contra o Santos, para citar apenas um exemplo, não foi assim), é amalucado, é irresponsável, só ganhou porque o adversário perdeu muitos gols, Diniz não gosta de vencer (apenas olhem o comportamento dele à beira do gramado), posse de bola não ganha jogo.
Diniz talvez entenda que liberdade e segurança não podem andar juntas; se temos uma abrimos mão da outra. Então, sim, é um sistema de riscos e vulnerabilidades - assim como a vida.
Diniz propõe uma dinâmica contra hegemônica de jogo. Não tem o famoso posicional, esse sistema que privilegia posições quase fixas e tenta controlar cada etapa do jogo diminuindo as chances de levar gols.
Dinizismo é loucura e liberdade. É solidariedade e criatividade. É confiança no que cada um pode fazer e em como pode se recuperar de erros. E, acima de tudo, é simplicidade. É a alma da várzea e da pelada, que é a base emocional do nosso jogo, da nossa cultura, da nossa filosofia de bola. É o que nos distingue dos gringos. É o que temos de único.
No final, Flu 3, Santos nada.
Deixe seu comentário