Alguém acredita que Ancelotti ainda vem?
A CBF está, outra vez, em chamas. O presidente em exercício, Edinaldo Rodrigues, foi afastado por desafetos. Entre os desafetos, ex presidentes acusados de corrupção. Edinaldo, ao que se especula, não soube fazer conchavos, se entregou ao microgerenciamento das contas e essa combinação enfureceu outros poderosos por lá. Caiu.
A CBF é uma das mais lucrativas empresas brasileiras. Em 2022 arrecadou mais de um bilhão de reais. Em caixa ela tem hoje mais de 800 milhões; dinheiro que, paradinho, vai se lambuzando nos fartos juros praticados no Brasil. Seus executivos ganham, a partir desse lucro estratosférico, salários e bônus que em nada deixam a desejar aos das grandes corporações mundiais. A CBF é um negócio como poucos.
O grande naco dessa grana vem de patrocinadores, esses que estampam seus logos em tudo o que envolve as seleções brasileiras. Essa grana imensa que circula livre pela confederação pode ser repassada às federações sem grandes detalhes, em nome de projetos disso e daquilo conduzidos por empresas comandadas por amigos e amigos de amigos. É, em resumo, uma festa.
Enquanto isso, nosso futebol padece. Campos ruins, estádios capengas, mais da metade dos jogadores profissionais recebendo um salário mínimo, jovens craques sendo vendidos antes de brilharem aqui, uma seleção cujo valor vai diminuindo a cada ano, uma camisa que perde capital simbólico a cada escândalo e a cada associação a coisas como golpes de estado e fascismo. Não existe interesse em organizar cursos para combater o racismo, o machismo e a lgbtfobia em campos e nos estádios: no máximo gasta-se com faixas e cartazes que pedem o fim do preconceito. Medidas ridículas, vazias e constrangedoras.
É nesse oceano fétido que Carlo Ancelotti, o poderoso treinador do ainda mais poderoso Real Madrid, foi convidado a mergulhar. Ancelotti nunca disse formalmente que estaria a caminho, ainda que também jamais tenha desmentido o burburinho de sua vinda, e o que sabemos até aqui é que o Real gostaria de sua permanência. É certo que a CBF deve ter oferecido ao italiano um salário das arábias, mas me parece igualmente razoável imaginar que, a essa altura de uma vida de 64 anos muito vitoriosa, Carlotto não esteja exatamente motivado por salário.
A camisa brasileira ainda exerce algum poder de persuasão, verdade. A possibilidade de trabalhar com tantos jogadores excelentes deve também pesar. Mas será que entrar nesse circo chamado CBF não acabaria fazendo de Ancelotti o palhaço da vez?
Se o negócio da CBF fosse o futebol haveria um universo de coisas a serem feitas com tanto dinheiro que por lá circula. Seria o momento de começar de novo, refundar a marca, pensar em uma filosofia de jogo, levar Fernando Diniz e seus métodos a sério e não como tapa-buracos, reformular o corpo diretor, colocar em cargos de comando pessoas que representem a identidade da população brasileira.
Mas o negócio da CBF é o capital e não o futebol. O negócio da CBF é ser esse paraíso para executivos de uma mesma matriz política, amigos e parceiros de décadas que se revezam no poder e se protegem nos escândalos, uma gente que se recusa a transformar a empresa e a trabalhar pela melhoria do nosso futebol. É o negócio pelo negócio, a grana pela grana, o poder pelo poder. Ancelotti, caro mio, olha bem onde você estaria se metendo.
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