A tremenda beleza do sistema defensivo do Fluminense
Vinte e sete minutos do primeiro tempo. Contra ataque para o Al Ahly. O time sai rápido e tocando verticalmente a bola. Velocidade impressionante. Samuel Xavier vai voltando furiosamente para tentar impedir o pior. São três contra dois porque Nino também volta. No canto esquerdo da tela tem outro tricolor voltando alucinado no vácuo de um atacante egípcio. É Cano. Cano, o artilheiro que estava fazia segundos na pequena área adversária. A bola chutada explode em Nino e sai pela linha de fundo. Nesse momento, Cano estava plantado na defesa, marcando Canberra, o mais perigoso dos atacantes do time egípcio.
O sistema defensivo do Fluminense começa no ataque.
Arias, Cano e Keno. É a primeira linha de marcação. Uma linha que não é linha, na verdade. Uma linha que volta na medida da necessidade. Uma linha que se mexe e movimenta sem parar. No Dinizismo, tão acusado de ser demasiadamente ofensivo, todos marcam.
Os microfones que pegaram Diniz berrando para Kennedy na final da Libertadores "você vai fazer o gol do título" também flagraram o que Diniz disse antes: "você vai marcar pra caralho porque se não fizer isso a gente vai se fuder". Desculpem o rigor da transcrição, mas os palavrões são necessários em nome da tensão do momento.
O sistema defensivo do Fluminense é o time todo e se baseia no princípio da solidariedade. Se um erra, todo mundo volta, todo mundo marca, todo mundo se ajuda. Um por todos. Todos por um. Um desses clichês que, de tão verdadeiros, deixaram de fazer sentido.
Contra o Al Ahly o Fluminense precisou se defender muito. Mesmo tendo a posse de bola encarou os contra-ataques dos egípcios, que eram certeiros e verticais, agressivos e criativos. Fabio teve atuação de time campeão mundial: Ceni no São Paulo, Cassio no Corinthians, Clemer no Inter.
"O time corre muitos riscos", dizem sobre o Fluminense. "Só ganhou porque teve sorte de não levar gol", repetem. Verdade. Precisamos de sorte na vida. Mas acreditar que o futebol de Diniz é construído pela boa fortuna é analisar de forma simplista. O Dinizismo corre riscos. Assume riscos como parte do jogo. Sabe que segurança e liberdade são dois lados de uma mesma moeda: é preciso abrir mão de um para ter o outro. O resultado é um jogo aberto, destemido, solidário. Haverá derrotas pelo caminho, mas as vitórias serão gloriosas.
O jogo foi um espetáculo para amantes do futebol. Ataques, contra-ataques, tensão, trave, defesas, dribles. Marcelo é um fora de série. Felipe Melo fez uma partida perfeita. Ganso foi Ganso, tocando sempre de primeira. Samuel Xavier foi brilhante. Martinelli, um operário absolutamente entregue ao sonho. André, dessa vez, esteve abaixo de sua média, que é altíssima. Tão alta que a Fifa escolheu André como o melhor em campo. Mas não importa. O Fluminense de Diniz é conjunto acima de tudo. Que time. Que união. Quanta solidariedade. No final, dois a zero fora o showzaço. Agora é esperar o adversário da final.
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