Milly Lacombe

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As 12 vezes em que Jair Bolsonaro fez apologia ao nazismo

Em 2018, quando as pesquisas mostravam que o candidato Jair Bolsonaro poderia vencer a eleição e se tornar presidente do Brasil, uma pequenina notícia na Folha indicava que aquele que alcançaria o posto mais alto do funcionalismo público no país poderia ser chamado de nazista. Quem dizia isso era o advogado estadunidense Mike Godwin, criador da lei conhecida como "Lei de Godwin".

A chamada lei tem como objetivo convocar a nossa atenção contra a banalização da palavra - e alertar para quando os paralelos com o nazismo são pertinentes e quando dever ser evitados.

Então vejamos: o advogado judeu que criou um limite para que não abusássemos das comparações com o nazismo disse que era ok chamar Bolsonaro de nazista.

Em 2018.

Na época, o Jornal Nacional, hoje tão indignado com a comparação que Lula fez entre o que acontece em Gaza e a perseguição de Hitler aos judeus no começo dos anos 30, não deu bola.

Na mesmíssima época, o professor Michel Gherman, que atua nos temas holocausto, estudos judaicos, oriente médio, extrema-direita, sociologia da religião, estudos de genocídio, violência política, nacionalismos e sionismo, estava sozinho berrando para chamar a atenção do Brasil para a grotesca ligação entre o bolsonarismo e o nazismo. Aliás, recomendo seu livro "O Não Judeu Judeu".

Desde 2018, o que o ex-presidente da República fez foi reforçar sua ligação com o nazismo. O governo de extrema-direita de Israel nunca reclamou. Ninguém do centro e da direita no Brasil pareceu se importar. Não lembro de Tábata Amaral revoltada. Não lembro de presidentes do Senado esperneando. Não lembro do MBL indignado. Não me lembro de pedidos de Impeachment. Muito pelo contrário.

Um dos que agora se mostram revoltados com a frase de Lula é o deputado Kim Kataguiri, que há pouco tempo disse, diante de uma Tabata Amaral bastante conformada, que não concordava com a criminalização do Nazismo.

Silêncio.

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Nas 12 vezes em que Bolsonaro e o bolsonarismo fizeram apologia ao nazismo a Globo News, que há dois dias bate em Lula por considerar temerário que ele use Hitler para falar da tragédia em Gaza, tampouco pareceu ligar.

Lula errou? Talvez sim, talvez tenha errado ao fazer uma comparação que teria sido evitável e tocado em dores inomináveis para efeito retórico. Podemos debater, aprender, mudar. Eu, por exemplo, recorro sempre à sabedoria do professor Gherman para saber o que pensar e como agir sobre esse tema; Gherman é uma das mentes mais brilhantes no debate público atual.

A questão que se impõe é que, diante dos fatos abaixo, me parece evidente que o problema não é a derrapada retórica de Lula, e sim saber quais são os reais interesses daqueles que se omitiram por anos diante do comportamento inominável de Bolsonaro em relação ao tema e que agora, por muito menos, convenhamos, criticam Lula com fúria dissimulada.

Aos fatos.

  1. Em 1998, o deputado Jair Bolsonaro defende Hitler como figura história na tentativa de autorizar que alunos do Colégio Militar em Porto Alegre exaltassem o líder em redação do vestibular.
  2. Em 2011, um grupo de neonazistas organizou uma manifestação de apoio ao deputado Jair Bolsonaro não vão do MASP. O evento foi organizado depois que Bolsonaro deu declarações homofóbicas ao programa de TV CQC.
  3. Em 2012, no mesmo programa, Bolsonaro desfila teses negacionistas sobre o Holocausto e diz que os judeus morreram de doenças nos campos de concentração. Não tinham sido, portanto, assassinados.
  4. Em 2015, Carlos Bolsonaro convidou o professor Marco Antônio Santos para discursar na Câmara dos Vereadores em defesa do Escola sem Partido, um movimento que estabelece regras sobre o que pode, ou não, ser dito em sala de aula por professores. Marco Antônio Santos apareceu na Câmara vestido como Hitler - usando um bigode característico do nazista, um corte de cabelo semelhante e um terno com broches militares.
  5. Em 2016, um internauta resgatou uma foto de Bolsonaro ao lado de Santos. Na época, ambos eram do Partido Social Cristão (PSC).
  6. Em 2019, já presidente, Bolsonaro discursou sobre sua ida ao Museu do Holocausto diante de uma audiência evangélica: "Fui, mais uma vez, ao Museu do Holocausto. Nós podemos perdoar, mas não podemos esquecer". Podemos perdoar, Jair?
  7. Ainda em 2019, o assessor de Bolsonaro, Felipe Martins, aparece em vídeo durante sessão no Senado fazendo com a mão o sinal associado ao antissemitismo. Flagrado no ato, foi convidado a se retirar da sala pelo deputado Randolfe Rodrigues. Martins está preso sob acusação de ter participado de tentativa de golpe de estado.
  8. Em 2020, Roberto Alvim, Secretário Especial da Cultura de Bolsonaro, encenou imitação de um discurso de Joseph Goebbels, ministro de propaganda nazista. Alvim, teatrólogo renomado, escolheu um cenário quase idêntico ao usado por Goebbels, cortou o cabelo como o do nazista, usou as mesmas paletas de cores no cenário. Trechos de Alvim: "A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional". "E será igualmente imperativa". "Ou então não será nada" Trechos de Goebbels: "A arte alemã da próxima década será heroica" "Será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada" Ao fundo, enquanto Alvim falava, tocava ópera de Richard Wagner, compositor alemão celebrado por Hitler. Depois da apologia ao Nazismo feita por Alvim, houve revolta generalizada com repercussões internacionais. Bolsonaro demorou, mas finalmente percebeu que seria obrigado a demitir Alvim.
  9. Ainda em 2020, Bolsonaro aparece em live ao lado do então presidente da Caixa, Pedro Guimarães, demitido depois de ser acusado de inúmeros crimes de abuso sexual e moral, tomando um copo de leite. O uso do leite como símbolo neonazista nos Estados Unidos vem de 2017. Começou como uma brincadeira até se tornar linguagem de supremacistas brancos nas redes sociais. Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp e pesquisadora do nazismo, disse à revista Forum, do colega Renato Rovai, que há uma referência clara entre o episódio que envolve a live de Bolsonaro e o neonazismo. "O leite é o tempo todo referência Neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como os neonazistas historicamente fazem".
  10. Em 2021, Bolsonaro confraterniza com Beatrix von Storch, vice-presidente do partido neonazista alemão (AfD). Trata-se de figura radioativa evitada por todos os líderes democráticos do mundo.
  11. Bolsonaro termina seus discursos e alguns documentos com o lema do fascismo: Deus, Pátria, Família.
  12. Bolsonaro usou como slogan de campanha uma frase textualmente nazista: Brasil acima de tudo - "Alemanha acima de tudo", era a de Hitler.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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