É legítimo barrar manifestante de extrema direita de entrar em vagão
Vídeos das torcidas do Santos e do Corinthians barrando pessoas vestidas em verde e amarelo de entrarem em vagões do metrô estão circulando e dividindo opiniões. Alguns acreditam que as organizadas de Santos e Corinthians praticaram atos ilegais e imorais ao barrarem os manifestantes.
Gostaria de oferecer contexto a essas imagens.
A manifestação na Paulista era uma manifestação antidemocrática por princípio. O que estava sendo defendido naquele dia eram valores como ditadura, tortura, torturador, golpe de Estado e tudo o que vem a reboque: racismo, misoginia, LGBTfobia, machismo.
Seria preciso ter isso em mente: não estamos mais no terreno de polos políticos aceitáveis. Saímos desse cenário faz anos. A extrema direita não é campo legítimo. Extrema direita não se debate, se combate.
Assim, as imagens me parecem bastante reveladoras e também registros históricos: vale sim não deixar extremista de direita entrar.
Assistir aos vídeos oferece o mesmo tipo de conforto que sentimos vendo um filme como Bastardos Inglórios por exemplo.
E mais: as cenas são um convite para que nos desloquemos do pensamento imediato. O que vemos de bate-pronto: homens fortões e de cara brava barrando pessoas da terceira idade de expressões entristecidas e amedrontadas de entrarem no vagão.
Sem contexto parece uma aberração. Vamos ficar do lado dos velhinhos obviamente.
Mas, com contexto, mudamos automaticamente de time.
Os velhinhos estavam indo apoiar um movimento de extrema direita e todos os valores associados a ele. Os fortões estavam dizendo: aqui não, aqui é democracia.
Claro que os vestidos de amarelo conseguiram chegar ao destino pegando o trem subsequente. O gesto das organizadas valeu como símbolo de resistência. É imagem forte e poderosa.
Beira a ilegalidade? Talvez. Mas é legítimo. Não nos esqueçamos que a Escravidão foi legal, o Apartheid sul-africano foi legal, o Nazismo foi legal. Só que eles nunca, nem por um dia, nem por uma hora, nem por um segundo, foram legítimos. Um brinde aos que lutam contra qualquer ato de inclinações fascistas.
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