Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

9M

Oito de março. Dia internacional da mulher. Agradecemos as flores, os parabéns, as congratulações. Agradecemos vocês nos enxergarem pelo que somos, pelo que podemos ser.

Somos mães, mulheres, filhas, sobrinhas. Somos jornalistas, publicitárias, militares, advogadas, donas de casa, prostitutas, travestis, cineastas, motoristas, babás, CEOs, faxineiras. Somos tudo isso. Merecemos esse reconhecimento e o sonho que a parceria de vocês oferece.

Só que o 8 de março acaba à meia-noite. Mas é certo que não vamos sair desse lugar sem esse envolvimento. E o 9 de março? Eu tenho certeza que você sabem que não basta se manifestar no dia 8 e seguir a vida.

O dia da mulher é todo dia e o ano todo.

As rosas murcham, as homenagens são esquecidas, mas o corre continua: as roupas não se lavam sozinhas, os filhos não se educam sozinhos e nem vão à escola por conta própria. O supermercado não atua por caridade, nossos corpos ainda lutam para serem livres.

Não nos afaguem por um dia. Não é isso o que vai nos salvar - e nem te salvar. O 8 de março é importante, mas e o dia 9?

Precisamos de uma sociedade que compreenda as dimensões do que está em jogo. Aborto, trabalho doméstico, violência na família, nas ruas, no esporte, repressão no trabalho, sexo, cuidado, respeito.

Sem essa implicação o 8 de março seguirá sendo um dia isolado e inóspito cuja única relevância é celebrar a vida do meu amigo Maurício Svartman, um dos homens mais maravilhosos e sensíveis que conheci e que nasceu nesse dia.

A pergunta que fica é: o que você vai fazer no dia 9? No dia 10? No dia 11? Como evitar que o dia 9 seja apenas uma ressaca?

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Você vai seguir pedindo para sua mulher colocar a mesa? Vai seguir não achando as coisas para fazer o café? Vai seguir inventando desculpas para não ficar com seus filhos? Vai dizer que precisa trabalhar até tarde para não levá-los ao dentista? Vai seguir reclamando do decote da blusa dela?

Estamos aqui para dizer que o 8M é um símbolo, um chamado à consciência, um apelo à sua participação. Agradecemos. Mas um dia perdido no ano não muda as nossas vidas. Nossas vidas mudarão quando você mudar suas atitudes ao longo de todos os dias do ano.

O oito de março é um marco. E a gente sabe disso. Agradecemos as rosas mas seria importante que vocês soubessem que morrer com uma rosa murcha nas mãos não vai mudar nada.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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