Milly Lacombe

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Corinthians: acabou a farra; começou o pandemônio

Com o comunicado de que a principal patrocinadora do Corinthians pediu o cancelamento do milionário contrato diante do escândalo financeiro que chafurda o Parque São Jorge, o time do povo conhece mais uma porta no fundo do poço. Lá se vai pelo abismo um dos maiores clubes do mundo, sequestrado por uma década de administrações desastrosas e individualistas, se afogar em novas lamas fétidas.

A atual administração parece ter vocação para o caos e para o delírio, verdade. Mas as anteriores, ainda que não tão desastradas, assinam por anos de negligências, compras e vendas inexplicáveis de jogadores, contratos estapafúrdios, esvaziamento dos valores mais básicos desse time. Onde está a auditoria, Augusto?

Agora estamos diante de um escândalo sem muito precedente: o suposto desvio de um dinheiro que deveria pertencer ao clube. Isso seria bom a gente não perder de vista: o dinheiro supostamente desviado deveria estar no clube, especialmente se lembrarmos que o diretor de futebol na época da assinatura do contrato disse que não haveria intermediários.

É tudo uma bagunça.

Na ponta final dessa lama está uma mulher periférica e mãe solo que vive num barracão de menos de 10 metros quadrado com seus filhos. Foi seu nome o usado para a tramoia do suposto desvio. E, embora o roubo ainda seja apenas uma suposição, o uso do nome de uma laranja para abertura de empresa fantasma é fato. Temos, portanto, uma vítima. O que o Corinthians está fazendo para proteger essa representante do povo que o time diz ser seu?

Nada.

O Corinthians se afastou de seus valores mais básicos. Virou uma empresa cujo negócio é comprar e vender jogador. Um entreposto. Uma fonte de excelente renda para poucos homens poderosos.

Onde estão os valores que fizeram esse time ser um dos maiores do mundo? Não foram títulos que agigantaram essa camisa. O que colocou o Corinthians no topo sempre foi o fato de ele representar a resistência. Foi a luta, dentro e fora de campo. Foi se entender como classe trabalhadora. Foi a batalha pública por democracia e contra a ditadura. Foram os punhos erguidos de Sócrates, os carrinhos no campo de ataque, o sangue na camisa de Zé Maria. Foram os treinos abertos, a torcida que se desloca em massa e invade do Rio de Janeiro ao Japão.

Há mais de dez anos o Corinthians está sendo destruído de dentro para fora. A camisa oficial custa quase 500 reais. O ingresso pode custar mil. Agora tem camarote fechado com ar-condicionado, buffet e mármore. Fizeram um estádio em Itaquera que é caro para a periferia frequentar. Deixaram o povo do lado de fora. Treino aberto agora só para sócio. Não tem dinheiro para pagar mensalidade? Não é bem-vindo. Parece absurdo? Pois já foi colocado desse jeito por um dos conselheiros desse time. Hoje, só interessa mesmo o cliente. O povo que se dane.

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O Corinthians podia ser uma revolução, mas se apequenou e hoje é apenas deboche. Acabou a farra; começou o Deus nos acuda.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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