Milly Lacombe

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Como a ação de marketing de Ronaldinho piorou o que tentou melhorar

Ronaldinho Gaúcho encarou mais um de seus rolês aleatórios, mas dessa vez foi verbal. Do nada, o ex-jogador criticou duramente a seleção brasileira ecoando o que pensam milhares - senão milhões - de seus conterrâneos.

"É isso aí, galera, para mim já deu. Esse é um momento triste para quem gosta de futebol brasileiro. Fica difícil encontrar ânimo para ver os jogos. Esse é talvez um dos piores times dos últimos anos, não tem líderes de respeito, só jogadores medianos em sua maioria", disse Ronaldinho em um vídeo que rapidamente viralizou.

As palavras duras foram recebidas com estranheza e, em seguida, começaram a ser repercutidas com muita gente se colocando contra e com muita gente se colocando a favor. Até dentro da seleção teve jogador se manifestando. Um debate parecia que ia ganhar corpo, mas tudo morreu quando soubemos que o vídeo era parte de uma campanha publicitária da Unilever.

O objetivo era, a partir da crítica do ex-jogador, usar a marca (Rexona, uma das patrocinadoras da Copa América) para pedir apoio à seleção. Não acho que tenha dado tão certo quanto a Unilever supôs. Mas seria importante dizer que o vídeo de Ronaldinho foi feito com declarações reais colhidas nas redes sociais a respeito da seleção. Ou seja: o vídeo destaca e reforça sentimentos que estão em circulação na sociedade.

Um time que precisa de campanha de marketing para ser apoiado talvez tenha problemas mais sérios e estruturais do que pode imaginar. Faz tempo que a seleção perdeu contato com o povo, perdeu apelo, perdeu engajamento. Hoje, os jogos são assistidos com certa frieza. Assim como o mercado publicitário, a CBF certamente detectou o distanciamento, mas talvez não saiba o que fazer para mudar o cenário.

A seleção brasileira segue sendo um bom negócio para marcas, mesmo apesar dos fracassos esportivos e de atitudes preconceituosas como proibir jogador de atuar com cabelo cor-de-rosa, uma história que ainda não foi - e talvez jamais seja - devidamente explicada. Mas até quando? Se nossos vizinhos foram capazes de, mantendo suas raízes, vencer uma Copa do Mundo, o que nos falta?

Temos o diagnóstico, mas não o tratamento. Será que a administração de Ednaldo Rodrigues vai conseguir transformar a situação? Fica o questionamento. De certo mesmo, apenas o fato de Rexona ter verbalizado duras verdades para em seguida não saber o que fazer com elas. Nada que um bom time de criativos não possa consertar; oportunidades para isso temos a fartar porque fortes sentimentos estão em circulação,

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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