Final deprimente de Gabriel no Flamengo revela pequenez da diretoria
Lá se vai um ídolo. É o que informa o noticiário. Gabigol, o cara que realizou o milagre de Lima em 2019, está fora dos planos do Flamengo. "Ah, mas Milly, você queria o quê? Que a diretoria desse o aumento e os mimos que ele pede mesmo já não jogando mais nada?".
Tenho certeza que, ao ler a primeira frase desse texto, teve gente pensando na segunda como réplica. Isso porque vivemos tempos binários. Neles, só temos duas opções. Certo e errado. Sim e não. Isso ou aquilo.
É uma lógica bastante rasa que faz parte dessa época de neoliberalismo doentio. Uma crise econômica, social e política que é, também, cognitiva. Então, se eu digo: "Aqui não tá fazendo nada de Sol hoje", dentro desse modelo de pensamento a réplica seria: "Ah, tá! Então você quer dizer que tá caindo um temporal aí hoje?"
Vamos pensar juntos e juntas.
Gabriel Barbosa não joga nada há quase dois anos - pouco menos talvez. Gabriel Barbosa acreditou que era maior do que o Flamengo e decidiu viver como celebridade. Parou de correr, de marcar, de combater, de jogar. Recebeu a 10 e, como diria minha sobrinha, ficou se achando. Foi para o banco, fez bico e pirraça. O corpo pesado indica que ele talvez tenha outras prioridades na vida. Como eu disse faz tempo, passa por um processo de neymarização. Como não tem o talento de Neymar, a derrocada foi bem rápida. E agora ele está de saída do clube que o consagrou. Vai pela porta dos fundos.
Justo.
Mas e se a gente tentasse uma outra alternativa?
A diretoria do Flamengo, essa que desde 2019 monta times maravilhosos que eventualmente não jogam nada, mas que seguem sendo a segunda maior força do Brasil, é das mais constrangedoras que já houve.
É ela que negocia dinheiro pela vida dos garotos que morreram queimados no Ninho. Não quer pagar o que seria íntegro. Bate o pé. Contrata advogados que custam talvez até mais do que o dinheiro que o Flamengo poderia oferecer às famílias que perderam seus filhos. O que justifica atitude tão vil? A alma do empresário que não suporta achar que está sendo passado para trás.
Não existe até hoje um espaço de memória para esses garotos. Um lugar onde a história da vida deles seja contada e lembrada. Não existe nada oficial no dia 8 de fevereiro, o dia da tragédia. Uma missa pública que o clube promova em espaço onde a massa rubro-negra possa ir rezar pelas crianças que morreram com o escudo no Flamengo colado ao peito por exemplo. O 8 de fevereiro deveria ser feriado no clube. Dia de recolhimento. Dia de luto e de luta.
Uma diretoria que fechou com um presidente de inclinações fascistas, que fez pouco da pandemia e que agora age para transformar o Flamengo em empresa.
O Flamengo não é de Landim, não é de dirigente que se engalfinha com torcedor pelas ruas, não é de Gabriel Barbosa nem de seus agentes e empresários. É da massa. É da memória dos que vestiram essa camisa com honra e glória. Coisa que Gabriel fez entre 2019 e 2022.
Um pouco da coragem e do brio de Leila Pereira não faria mal a Landim.
Coloque sua carinha no Sol e fale de Gabriel. Diga o que pensa a diretoria. Diga que o ciclo chegou ao fim. Que ciclos se encerram. Que a história está escrita. Que o Flamengo agradece. Que vai fazer uma cerimônia de despedida. Que existe gratidão. Saia como o maior dos homens nessa história. Dirija-se à torcida de forma honesta, pública, clara. Não se encolha não, presidente. Seria apenas justo que a diretoria pensasse desse jeito. Mas ela escolheu se apequenar. Atualmente, nem a diretoria, nem Gabriel, nem o estafe de Gabriel Barbosa poderiam ser vistos mesmo que o mais potente dos microscópios chegasse à Gávea. Cresçam, senhores, saiam de seus umbigos e busquem fazer justiça ao tamanho dessa camisa e dessa história.
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