Milly Lacombe

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Paris pergunta: quem pode ser excluído na representação da Santa Ceia?

Faz dois dias que conservadores e bajuladores de conservadores (salve, senador Randolfe Rodrigues) se mostram indignados com a abertura dos Jogos de Paris. O que mais pegou foi uma suposta releitura Queer da Santa Ceia.

Não há certeza sobre se a organização mirou na Santa Ceia ou se a referência seria um dos Deuses gregos, mas eu diria que isso já não importa. Para a opinião pública trata-se de um sacrilégio à Santa Ceia e é assim que o episódio entrará para a história.

Nesse ponto, vale refletirmos. E reflexões só funcionam para quem lê os livros sagrados como mitos e não como se fosse a Folha de S. Paulo. Portanto, se você acredita que a Bíblia é um compilado de notícias de uma época remota eu recomendaria parar de ler esse texto imediatamente.

Na representação da Santa Ceia como a conhecemos quem está excluído? Praticamente todos menos os homens. Esse fato não parece incomodar ninguém. Tá tudo certo. É só homem mesmo e os excluídos que tratem de cuidar de suas feridas.

Não é bem assim, eu diria. Podemos debater, argumentar e fazer releituras.

Seria necessário falarmos sobre o simbolismo do derradeiro jantar entre Jesus e seus apóstolos.

Nas aulas de catecismo aprendi que diante daquela mesa terminam nossas diferenças e começa a verdadeira unidade em Cristo. A mesa e a refeição com os nossos é uma celebração que renova a fé, a confiança e o amor. Não importa como chegamos à ceia, importa como sairemos dela. É o ato do encontro de amor em volta da mesa que nos fortalece física, mental e moralmente.

E outra: Jesus teria ordenado que celebrássemos a Ceia até que Ele voltasse. É o que todos, todas e todos teríamos o direito de fazer, certo? Com aqueles e aquelas que amamos.

Qual o problema de colocarmos em volta da mesa a totalidade das nossas cores e expressões? Quem se ofende com isso? Certamente não Jesus. Mas talvez os que não entenderam nada a respeito do que Jesus pregava e não se importem em colocar para fora sua LGBTfobia (alô alô, senador).

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Jesus foi um judeu que nasceu na região da Palestina. Um judeu palestino, portanto. Despelestinizar Jesus é ato político covarde. E, nessa nota, o que seria realmente revolucionário é se a organização dos jogos tivesse dado um jeito de colocar as delegações de Israel e da Palestina no mesmo barquinho descendo o Sena. Só o espírito olímpico poderia ter tentado e talvez conseguido realizar um feito como esse. Um gesto de imensa transgressão que representaria o real valor dos Jogos. Uma imagem que entraria para a história de forma imediata.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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