Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

As valiosas lições que o skate tenta passar e que nos recusamos a escutar

Nos anos 80 o skate era um esporte marginal. Assim como um dia o samba foi uma música marginal. Assim como a capoeira. Assim como a prática de religiões de matriz africana. Assim como as artes da pichação e da grafitagem. Tudo isso era considerado - e ainda é por muita gente - indecente, coisa de vagabundo e de vagabunda. Num país cujo poder olha para o espelho e quer ver a Europa, a cultura de nossas periferias é ignorada e criminalizada até, um dia, ser apropriada e virar mercadoria.

O skate trava sua luta por inclusão há décadas. Uma luta que não se separa da luta por justiça social. Vozes periféricas batalham por visibilidade e respeito desde sempre. Virou esporte olímpico em 2020 e, de imediato, mostrou que quando o senso de comunidade e de solidariedade é forte a competição é apenas uma diversão.

Rayssa Leal explica, sempre com bastante paciência, que não existe torcer contra no skate. Nesse 29 de julho o skatista brasileiro Felipe Gustavo, que está em Paris, disse ao UOL: "O skate é muito família. Dentro do skate ali não tem ninguém torcendo contra ninguém (...) Não é que nem futebol. Eu tento nem ter isso como uma distração, sabe? Acho que a galera realmente não entende. Então, a gente tenta que explicar da melhor forma como funciona o skate". Felipe disse isso logo depois de ser desclassificado e de escutar a torcida brasileira secando seus rivais.

Num mundo que diariamente separa as pessoas entre vencedores e perdedores esse conceito parece alienígena.

Mas seria importante escutar o que dizem os jovens skatistas. O esporte que se desenvolveu no duro concreto das metrópoles e utiliza o caos para fazer poesia quer deixar seu legado, e ele não é feito de pódios ou medalhas. Ele é feito de amizade e solidariedade. Ele não fala sobre voar, mas sobre cair e levantar. Ele não quer categorizar vencedores; quer apenas celebrar a comunidade que, em sua totalidade, já venceu todas as vezes que uma nova criança pega uma prancha sobre rodinhas e vai riscar o concreto com ela. Seremos capazes de aprender?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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