Uma medalha construída por gerações e um brinde a Daiane dos Santos
Daiane dos Santos foi uma imensidão de ginasta. Revolucionou coreografias e usou excelência como nome próprio. Campeã mundial, tem dois movimentos nomeados formalmente depois de ser a primeira ginasta no mundo a realizá-los: o duplo twist carpado, ou Dos Santos I, e a evolução dele: o duplo twist esticado, o Dos Santos II.
Daiane fez nascer um sonho coletivo e mostrou que era um sonho possível. Levou o desejo a centenas de meninas como ela. Não conseguiu medalha olímpica de forma concreta, mas abriu a trilha que deu na conquista desse 30 de julho: um bronze por equipe.
Mulher negra num país racista, só Daiane sabe o que passou para ser uma das maiores ginastas do mundo. Sem seu talento e inteligência é bastante provável que hoje não estivéssemos celebrando. Certamente não estaríamos onde estamos sem nossas antepassadas, sem as que vieram antes, sem as que ousaram quebrar barreiras.
Somos um milagre em esportes olímpicos. Um país que negligencia a maior parte de seus meninos e meninas, que não investe nas populações mais vulneráveis, que não constrói centros olímpicos, que não ergue escolas em bairros distantes do centro.
Poderíamos ser uma potência, certamente. Mas não somos. E quem agora reclama da falta de investimento no esporte e depois vota em políticos que querem privatizar tudo e só sabem falar em teto de gastos precisa entender que está aí uma contradição. O Capital privado chega nas periferias e favelas para pedir votos de quatro em quatro anos. Precisamos de uma sociedade solidária e de um estado que entenda que responsabilidade social é a locomotiva de um sistema justo. De um estado que leve dignidade e o direito de sonhar a todos os lugares
Nesse dia teremos muitas Daianes e Rebeccas. Nesse dia, seremos uma potência. Viva o time brasileiro de mulheres incríveis que volta para casa com um bronze que vale ouro.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
Deixe seu comentário