Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Se vamos detonar Abel, então precisamos falar sobre o filho de Tite

Abel levou as mãos às genitálias e o mundo caiu. De fato, o treinador palmeirense perdeu a cabeça - de novo. O gesto obsceno é bastante vulgar e foi constrangedor ver a cena. Mas se vamos berrar por dias e dias e dias sobre o que fez Abel, o que dizer do filho de Tite?

Vejam, Titinho foi flagrado curtindo nas redes sociais muitas postagens que celebravam a violência contra a mulher, misoginia, transfobia e toda sorte de escrotidão. Na época, era funcionário da CBF. O que aconteceu?

Vocês podem imaginar. Eu acho até que muitos dos que leem esse texto nem sabiam das predileções morais de Titinho. Mas todos sabem o que fez Abel Ferreira. Qual a diferença?

A primeira é que, numa escala Bolsonaro de horror e vulgaridade, o que fez Titinho é infinitamente pior do que o que fez Abel. Infinitamente. Abissalmente. Colossalmente pior.

A segunda, mais complexa, diz respeito ao grupo ofendido.

No caso de Abel, o grupo que mais se manifestou foi o das pessoas que defendem "a família". O gesto de Abel é o famoso "tirem as crianças da sala".

No caso de Titinho, cujo nome é Matheus Bachi, o grupo ofendido foi o das feministas. Então, dane-se. Não pega nada escrotizar mulher nesse mundo.

Titinho apagou as curtidas, mas nunca tocou no assunto. Nem ele, nem o pai, nem a CBF e, com honestidade, pouca gente na imprensa.

Matheus Bachi não pediu desculpas, não se mostrou envergonhado, não explicou que estava buscando ajuda para ser uma pessoa melhor, não criticou as bases de uma sociedade machista, não avisou que ia ler e estudar sobre o feminismo. Nada. Zero. Calou.

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O que fez Titinho não ofende, percebem? Ninguém liga, ninguém berra, todo mundo deixa pra lá.

Essa cartilha moral que pega como ofensa algumas coisas e descarta outras não nos serve. Ou todos enxergamos que as curtidas misóginas e transfóbicas do filho de Tite são abjetas, inaceitáveis e repugnantes ou a gritaria é hipocrisia.

E se querem falar do comportamento de Titinho à beira do campo temos também materialidade para criticar. Basta colocar atenção no que faz o auxiliar do pai. Não saiam daí: no próximo texto, abordaremos o tema da meritocracia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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