Milly Lacombe

Milly Lacombe

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Abel perde a linha em coletiva e se lambuza no machismo

A pergunta feita pela repórter da BandNews FM para Abel Ferreira depois da goleada sobre o Cuiabá foi simples e queria apenas indagar a respeito da contusão de Mayke. Abel começou a responder em tom razoável e, de repente, mudou a rota e disse que só devia satisfação a três mulheres: sua mãe, sua esposa e sua presidente. Descambou para um texto sem sentido e agressivo para cima da repórter que estava apenas fazendo seu trabalho.

Qual o propósito desse tipo de comportamento? Por que responder a uma mulher que ele só deve satisfação a três mulheres na vida? Por que usar essa linha argumentativa? Por que seguir dando as entrevistas se ele não deve satisfação a ninguém? O que diabo passou pela cabeça dele para expor uma profissional dessa forma?

Já vi Abel ser grosseiro com homens, mas nunca vi Abel trazer a questão do gênero para responder um homem. "Olha, meu caro, eu só devo satisfação ao meu pai então não vou falar sobre a contusão do jogador". Que tempos são esses?

Abel se machuca com as críticas mesmo tendo a seu lado a vasta maioria de seus torcedores. A turma da corneta, pequena, é a que atinge seu nervo. Desde a eliminação para o Botafogo o barulho de um núcleo mais revoltado puxado pela organizada do clube tem cutucado Abel. Ele não foca nos aplausos recebidos, embora os cite; ele foca na crítica.

Na mesma coletiva, chegou a tentar ensinar os jornalistas a abordarem alguns temas, como a reação da torcida presente ao estádio depois da eliminação na Libertadores. Abel está visivelmente incomodado e, a fim de descontar em alguém, escolheu a jornalista que fez a pergunta mais direta e sem relação à Libertadores da coletiva inteira, aliás.

A mesma jornalista, firme apesar da malcriação de Abel, fez uma outra pergunta sobre a convocação de Estevão e, outra vez, Abel divagou grosseiramente pelo tema que bem quis, que no caso era o da real função de um treinador. Por quase meia hora Abel citou mulheres, dedicou a vitória a Leila, coisa que eu nunca vi ele fazer, elogiou a firmeza de sua presidente, comentou que nunca foi demitido e que seria curioso ser demitido por uma mulher. Estava claramente com o tema "mulher" na cabeça, escolheu uma jornalista para receber respostas desconexas e grosseiras e seria preciso um bom psicanalista para decifrar o mistério do que vimos ontem.

Leila Pereira, uma das pessoas a quem ele disse dever explicações, vem advogando por mais mulheres em coletivas. Temos, portanto, um dilema aqui. Se Abel cresce para cima de uma mulher da forma absurda como vimos hoje parece que ele e Leila discordam sobre o tema gênero em coletivas.

O Palmeiras teria que se manifestar. Trata-se de um clube que vem colocando em pauta, através de sua presidente, as questões que envolvem o machismo e a misoginia e quando seu treinador se comporta como fez Abel a instituição precisa dar uma explicação em nome da coerência e do respeito às mulheres que amam esse esporte e não são nem a esposa, nem a mãe e nem a chefe do treinador. Existem muitas formas de um homem abaixar as calças a fim de mostrar poder diante de uma mulher. A maior parte delas é simbólica.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes