John Textor está nu
O dono do Botafogo foi desnudado, mas parece que quase ninguém ligou.
O repórter Lucio de Castro divulgou, através do site do Instituto Conhecimento Liberta, uma série de reportagens que rastreiam o passado de Textor e envolvem algumas de suas empresas em esquemas de falências, uso indevido de dinheiro público, proximidade com magnatas russos e pirâmides financeiras. Um pacote incendiário que deveria bastar para deixar o botafoguense e a botafoguense de cabelo em pé. Se em campo o time encanta, fora dele a situação parece alarmante.
O Botafogo de Textor segue bastante endividado, mas a paciência da imprensa liberal com o modelo de negócios das SAF é infinita. As dívidas não são mais um problema. Eram quando o clube ainda não havia se transformado em SAF. Vendam!, berravam por todos os lados. Salvem o Fogão! Vem, Textor. Vem ajudar a gente. Welcome, boss! You're the man. Help us, please.
Na época, o passado de Textor não foi apurado. Não importava. Era um grande empresário interessado em salvar o Botafogo, chegou trazendo grana, o Fogão saiu da serie B, veio para a A e hoje joga o melhor futebol do Brasil. Basta. Let's set this game on fire!
Infelizmente, não basta.
Seria preciso entender quem é o estadunidense e como ele opera para ter a compreensão de como Textor pode estar usando o Botafogo, um dos maiores clubes do mundo, para seguir agindo de forma despudorada. Se olharmos para a realidade desenhada na série de textos de Lucio de Castro, ao final desse filme o Botafogo terá sido apenas mais uma vítima.
O detalhe de Textor não falar português parece bobagem mas não é.
Deixemos de lado por agora o fato de termos naturalizado um time ter dono. Vamos aceitar essa aberração para refletir o seguinte: Gringo que decide comprar o time de Garrincha e Nilton Santos precisaria chegar ao Brasil falando português fluente e em posição de prece. Para começar. Para mostrar que sabe exatamente onde está pisando.
Só isso já seria motivo para crítica. Mas, desgraçadamente, não é apenas isso. Quem lê a série de matérias de Lucio de Castro a respeito dos rastros deixados pela atuação de Textor na compra de empresas sai da aventura com a impressão de que o Botafogo é mais uma aventura na vida do mega-empresário. O repórter conta que passou quase quatro meses apurando e ligando os pontos até conseguir compreender toda a teia e começar a escrever.
Lucio de Castro, um dos maiores repórteres do Brasil, não deixa pontas soltas e desenha um histórico de fraudes associadas ao proprietário do Botafogo. Está tudo ali, ponto a ponto. Quem se importa?
Textor é dono de quatro clubes no mundo. No dia 22 de agosto, a imprensa internacional revelou que um dos clubes do empresário - o francês Lyon - precisava alcançar a meta de 100 milhões de Euros em venda de atletas para, assim, apresentar um balanço condizente com os gastos feitos. Teria até o dia 29 de agosto para entregar o documento.
O que fez Textor? Colocou todo o elenco do Lyon à venda. Liquidação. Corre que é só até sábado.
Que tipo de "gestão" é essa? Devemos celebrar? Devemos pedir mais? Devemos aplaudir incondicionalmente por causa dos resultados esportivos? O que ele quer com o Botafogo? Como o Botafogo pode sair disso?
Textor não entende de futebol mas, dizem, entende de gestão. O sucesso esportivo do Botafogo é usado para provar como ele é bom. Tanto faz que as dívidas sejam muitas. Não importa. Como não importa que ele se ache no direito de chegar aqui e sair apontando o dedo para tudo o que acha intolerável, que basicamente se resume a derrotas do seu time. Não pode. Foi roubado isso aí. Tem esquema no futebol brasileiro. I'll teach you guys how to play this game and how to behave properly.
No começo da gestão de Textor eu cheguei a achar que ele estava se apaixonando pelo Botafogo e que o jogo e a paixão o transformariam. Viradas heroicas, estádio cantando apaixonadamente, lágrimas de amor, baladas com botafoguenses, alegria sem fim. Viva o Botafogo cuja grandeza vai impactar os modos de agir de um mega-empresário. Eu realmente acreditei que o celebrado Textor estava sendo fisgado pela mais bela das camisas e o mais belo dos escudos. Seria natural. É o futebol. É o time de Didi, Garrincha, Nilton Santos. Mas, depois de ler a série de reportagens de Lucio de Castro, eu diria que, infelizmente, não há como essa ser a realidade. And it's a shame.
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