Milly Lacombe

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Dia da visibilidade lésbica: qual a diferença entre lésbica e sapatão?

Dia 29 de agosto é o dia nacional da visibilidade lésbica. A data, que existe desde 1996, passou a celebrar também a visibilidade da mulher bissexual. Mas e a sapatão? Onde se encaixa? Ser sapatão é a mesma coisa que ser lésbica?

Bem, há controvérsias. Sim e não. Mas, eu argumentaria - usando para isso as vozes da minha cabeça -, seria mais para não do que para sim.

Lésbica é a mulher que ama mulheres. Que sente desejo sexual, que se relaciona romanticamente com outras mulheres. A palavra era, há algumas décadas, recusada pela própria comunidade que, internalizando o preconceito, achava que não usá-la seria melhor para não provocar repulsa. Precisaríamos de algumas gerações para conseguir nos apropriar do verbete. Até esse dia, lésbicas se sentiam menos desconfortáveis se auto-denominando "mulheres gays".

Mas aí tínhamos um outro problema.

Gay sempre foi muito associado ao masculino e - como não deve mais ser surpresa para ninguém - o machismo e a misoginia vivem bastante confortáveis dentro do movimento LGBTQIA+ - e eles só terão fim quando, num futuro que talvez ainda esteja distante, o patriarcado tiver sido demolido.

Mas e a sapatão?

Eu diria que o termo sapatão, que causava ainda mais repulsa do que a palavra lésbica, foi apenas recentemente retomado pela geração de lésbicas mais novas que entenderam a importância de recuperar e ressignificar o que era um xingamento e motivo de ofensa. Nesse sentido, sapatão é ainda mais político do que lésbica. Talvez as mulheres mais velhas se sintam, ainda, pouco à vontade com o uso de "sapatão", mas as gerações mais recentes pegaram o termo para chamar de seu, orgulhosamente seu.

Definamos (com o perdão da sugestão sempre tão limitante de um padrão): a sapatão vai a passeatas, veste camiseta com as palavras "orgulho sapatão", decora a casa com a bandeira, raspa o cabelo pelo menos uma vez na vida, senta com as pernas abertas para dar um recado, ama um macacão e um boné e, como eu, prefere sítio a praia. A lésbica faz sua política passando pela vida com orgulho de quem é, mas não se sente obrigada a levantar bandeiras, entrar em longos debates ou vestir camisetas temáticas.

Importante ressaltar que a lésbica e a sapatão podem ser mulheres cis, mulheres trans, travestis e todo e qualquer corpo feminino cujos predicados sejam o de se relacionar e se apaixonar por outras mulheres.

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Essa é a forma como eu vejo. Deve haver discordâncias mesmo no interior da comunidade. Não importa muito. O que importa mesmo, o que é inegociável, é a compreensão de que a lésbica e a sapatão são sujeitos políticos que lutaram muito para que um dia pudéssemos estar aqui escrevendo esse tipo de texto e falando em nome do direito de amar outra mulher. Um brinde ao amor entre mulheres que se faz público e orgulhoso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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