Milly Lacombe

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Elon Musk mostra por que nem toda guerra deve ser evitada

Elon Musk, 52, é herdeiro de um minerador que explorava de forma ilegal esmeraldas durante o regime de segregação racial na África do Sul, o Apartheid, que era por ele apoiado. Musk é hoje o homem mais rico do mundo - ou o segundo mais rico, qual a diferença? - por causa da riqueza acumulada pelo pai. Não haveria o Elon Musk homem mais rico da história da humanidade se, de saída, ele não tivesse sido alavancado por papai.

Isso em contexto, façamos um brinde à ficção da meritocracia. Brinde feito, sigamos.

Musk usa sua riqueza indecente, imoral e ilegal, se considerarmos que ela começou com a exploração clandestina de esmeraldas durante o Apartheid, para seguir um plano de poder jamais visto.

Parceiro de regimes de extrema direita, cujas leis ele obedece sem espernear, Musk está em guerra com o governo brasileiro em relação à proibição de divulgar fake news. Em nome da liberdade de expressão, um conceito que foi sequestrado, subvertido e que precisa ser refundado, Musk se recusa a cumprir a lei brasileira. Quer ter o direito de fazer circular mentiras através de sua empresa, o Twitter que só ele mesmo chama apenas de X.

E, para que entendamos do que se trata sua ideologia fantasiada de liberdade de expressão na Muskolância, esqueçam o âmbito político e pensem que Musk está em guerra com o Brasil porque seu conceito de liberdade e expressão é tão desvirtuado que, se ele ganhar essa guerra, talvez amanhã não possamos sequer censurar vídeos que promovam horrores como a pedofilia, por exemplo. No limite, é disso que se trata a cruzada. Se Musk vencer, é essa a realidade que se apresentará escancarada. Musk aumenta sua riqueza e seu gozo promovendo o ódio e tudo o que o ódio arrasta a reboque.

Musk é uma das lideranças desse novo mundo dentro do qual corporações acumularam o poder, os direitos e a riqueza de países e de cidadãos. Musk, Bezos, Zuckerberg se comportam como apenas os ditadores seriam capazes de se comportar. E são defendidos para que sigam agindo assim.

O sistema democrático vigente permitiu que riquezas desse nível fossem acumuladas por alguns homens. Riqueza é sinônimo de poder e o poder é quem cria e executa as leis.

Além de sua rede de circulação de notícias, opiniões e mentiras, o Twitter, Musk tem atualmente centenas de satélites orbitando o planeta e que controlam nossas ações. O exército brasileiro, graças a Jair Bolsonaro e sua administração entreguista, depende da Starlink, a corporação de Musk que fornece acesso à internet para áreas remotas e que é financiada com o dinheiro do contribuinte estadunidense através da Nasa. Os recursos são socializados; o lucro e o poder são privados.

Quanto tempo falta para que um aprendiz de ditador como Musk comece a atuar para que possa ter armas nucleares em nome de defender seu patrimônio? Nesse estágio do capitalismo, patrimônio vale mais do que vidas. O empacotamento é "liberdade de expressão", mas o conteúdo é um plano de dominação nos moldes dos piores vilões que o cinema já foi capaz de produzir.

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Elon Musk está declarando guerra ao Brasil, da forma mais vulgar possível, já que a vulgaridade é parte integrante do fascismo moderno, porque considera o Brasil uma republica de bananas. Em relação à China, Arábia Saudita e Índia, Musk se curva como um súdito obedecendo qualquer pedido de regulação de sua rede, o Twitter.

Para que o Twitter não fosse suspenso no Brasil bastava que o empresário tivesse apontado representante no país e obedecido às leis que vetam a circulação de mentiras e perversões. Ele escolheu o confronto direto fingindo estar numa cruzada em nome da liberdade. Tem quem acredite. Mas há também os que estão acordados e entenderam que a cruzada é em nome de um plano de dominação e de controle em escala mundial.

Dentro de uma sociedade que está esquecendo seu aspecto coletivo e comunitário e que se enxerga apenas na dimensão de indivíduos e de suas famílias, fica fácil vender a ideia de que liberdade é conceito pessoal e que aplicar leis às coisas que dizemos se por acaso essas coisas puderem acabar com vidas humanas é gesto totalitário. A extrema-direita trabalha muito bem na chave da narrativa invertida. Fazem isso desde a colonização de forma bastante bem sucedida. Se não estivermos atentos acabaremos trabalhando para reproduzir essa inversão até torná-la verdade.

Nem toda guerra é evitável. Essa contra Elon Musk precisaremos lutar. Vencer o garoto bilionário mimado cuja riqueza é maior do que o PIB de boa parte dos países no mundo é dar um recado a outras nações sobre o que pode ser feito em nome de viabilizarmos o futuro. Se Musk vencer o Sol deixará de nascer. Primeiro, para as populações mais vulneráveis. Depois, para as classes médias. E, finalmente, até para os bilionários que hoje atuam pelo fim dos tempos acreditando que poderão colonizar Marte. E apenas escrever essa frase sem que ela esteja dentro de um roteiro de filme de ficção científica já revela como o absurdamento é o novo normal. A peculiaridade do fascismo é que sua pulsão de morte é tão feroz que ele não se importa em morrer depois que tudo tiver sido destruído. Elon Musk é um estado totalitário em formação agindo pelo aceleramento do fim de nossa espécie.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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