Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

A seleção brasileira nunca esteve tão em baixa. E vai piorar

A raiva é um sentimento potente porque mobiliza. Ela tem força para tirar a gente do lugar. O desprezo é um sentimento vazio que não mobiliza. A seleção brasileira já não provoca raiva nem tristeza. Ela provoca indiferença.

A audiência em dias de jogos ainda é alta, mas consideremos que a seleção joga sem concorrência. Imaginemos a situação de no mesmo dia ter Brasil e Paraguai e Corinthians e Juventude. Quem vocês acham que teria mais audiência?

A CBF não percebe, ou percebe e não sabe o que fazer. A crise não é tática nem técnica. A crise é de filosofia, de valores. A crise é ética e estética.

Ética porque a CBF é hoje um negócio lucrativo que existe para acolher patrocinadores. O negócio da CBF é o negócio do futebol. Não é o futebol. Não é colocar em campo a cultura de uma nação.

Não temos uma filosofia de jogo. Não temos mais alegria, ginga, drible, criatividade, inovação. Somos a imitação do jogo posicional da europa. Dá certo para eles porque eles são assim. Nós não somos.

É melancólico ver a seleção jogar.

E a crise é estética justamente porque o que a gente vê é um time absolutamente limitado. Dorival, Diniz, Tite, Dunga? podemos tentar encontrar culpados. Mas seriam todos eles treinadores ruins ou o problema é estrutural?

Data FiFA é sinônimo de tédio. A camisa da seleção, sequestrada pela extrema-direita, se esforça para voltar a ter valor fora de campo. Madona fez o que pôde, mas se a gente não resolver isso com um futebol verdadeiramente brasileiro não haverá popstar que possa resgatar a amarelinha.

Não vamos resolver nada da noite para o dia. Ficar repetindo Neymar Neymar Neymar não vai tampouco ser efetivo. Quando havia Neymar a gente também jogava desse jeito sem vida, sem alegria, posicional, rígido, melancólico, burocrático, des-abrisileirado. Mesmo se Neymar ainda fosse o craque de 2014. Mesmo que ele estivesse tinindo fisicamente. Mesmo que estivesse voando. Um jogador não salva esse tipo de crise. Messi sozinho não teria tirado a Argentina do buraco.

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Seria preciso entender quem queremos ser em campo, montar um projeto que respeitasse esses valores e então pensar em quem poderia liderar o movimento. Mas se o entendimento é de que o futebol é mesmo apenas um negócio e que, dentro dessa chave, a CBF é um sucesso porque acumula riqueza absurda, então é isso aí. A gente aguenta as datas FIFA, espera elas passarem, e sorri porque logo mais tem jogo do Corinthians.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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