Milly Lacombe

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Ramón Díaz deveria ser implacavelmente suspenso por agressão a gandula

O sábado 14 de setembro não foi um bom dia para gandulas. Na partida entre Fluminense e Madureira, pelo Carioca sub-20, um dos gandulas foi vítima de injúria racial. O acusado pelo crime foi o meia tricolor Arthur, de 20 anos. O gandula, bastante triste, decidiu prestar queixa e o jogo acabou com muita gente na delegacia. Se confirmada a violência, Arthur precisa ser exemplarmente punido e educado sobre a delinquência de seu gesto.

À noite, no Nilton Santos, tivemos que ver o técnico corintiano empurrar o gandula para que ele repusesse a bola em campo com mais rapidez.

Tudo lamentável, tudo da ordem do grotesco.

Ramón Díaz, não esqueceremos, é o mesmo que, quando treinava o Vasco, disse numa coletiva que mulher não pode comandar a cabine do VAR.

Nas palavras misóginas dele:

"Com relação aos árbitros, não podemos falar muito. Tem o VAR. Na última partida, em casa, uma senhora, uma mulher, interpretou um pênalti de outra maneira. O futebol é diferente. Principalmente de que o VAR seja decidido por uma mulher. Acho que é complicado, porque o futebol é tão dinâmico, tanta pressão, tão rápido, com decisões tão rápidas. Hoje não sei se o árbitro num pênalti em nosso ponta. Que bate e leva, não sei também se foi pênalti."

Vamos outra vez ter que citar o dado aterrorizante que diz que registros de violência doméstica contra a mulher aumentam quase 26% em dias de jogos de futebol nas cidades dos jogos.

Ramón Díaz e todos os que praticam violências em campo estão colaborando para que, em casa, o torcedor se sinta confortável para exercer seu poder sobre outros corpos. Não é difícil compreender a relação entre as coisas. Quem trabalha com o futebol, especialmente numa posição de comando, precisaria atuar para diminuir a violência e não para aumentá-la. Se, além de praticar violência em campo, Ramón Díaz ainda sugere que mulher não combina com futebol ele está piorando muito mais a situação.

Para tentar se desculpar do gesto, Ramón Díaz disse que a tensão é muito grande à beira do campo. Isso não é um pedido de desculpas. Pedido de desculpas sinceros não buscam justificar o erro. Verdade: a tensão é grande. No campo e em casa. Ficamos tensos, nervosos, queremos que o gandula reponha a bola rapidamente quando estamos perdendo e que ele reponha lentamente quando estamos ganhando. O mesmo Ramón Díaz que agora empurra o gandula pode portanto, amanhã, segurar aquele que tenta repor a bola rapidamente se seu time estiver vencendo. Sentimos muitas coisas durante uma partida de futebol. Nossa obrigação é a de não transformar os sentimentos em atitudes violentas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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