Milly Lacombe

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E se a cadeirada em Marçal fosse dada por uma mulher?

O candidato à Prefeitura de São Paulo José Datena está sendo tratado como alguém que agiu de forma compreensível diante da violência do discurso de Pablo Marçal durante o debate da noite de 15 de setembro. Toma aqui uma cadeira na sua testa para deixar de sugerir que não sou homem.

Entendo que há espaço para que debatamos o que quer Marçal com suas colocações tresloucadas e agressivas e que alguns não resistem e acabam perdendo a cabeça. Não estou aqui para me esconder atrás de discursos vazios do tipo "violência não leva a lugar nenhum" porque a história mostra que, em determinados períodos, violência foi determinante para acabar com regimes ditatoriais e injustiças sociais. Maria Antonieta e sua cabeça separada do corpo que o diga.

Mas a delinquência que vimos no debate à prefeitura de São Paulo não é do tipo de violência que visa acabar com ditadores ou injustiças sociais. A essas damos o nome de contraviolência. A delinquência que vimos no debate em São Paulo é um tipo de violência de um macho contra outro macho que não suporta ter sua masculinidade colocada em dúvida.

É a violência de um macho que enriqueceu ganhando dinheiro espetacularizando a violência e o punitivismo contra corpos periféricos na TV e de outro macho que não tem vergonha de promover coisas como um tipo de educação para meninos que envolve agressão física em nome da disciplina e que diz que meninas devem ser educadas para casar e cuidar do lar. O livro defendido por Marçal se chama Educando Meninos e foi escrito por James Dobson, um fanático religioso.

Foi isso o que vimos pelas telas de nossas TVs, computadores e celulares. Sob todos os aspectos, uma espécie de fim de mundo.

Mas o que estaríamos falando se a cadeirada tivesse sido dada por Tabata Amaral? Tabata, provavelmente, estaria sendo criticada pelas lideranças de seu próprio partido. Chamada de louca, descontrolada, descompensada. Diriam que estava de TPM. Seria massacrada por absolutamente todos os campos. Os olhares nem recairiam sobre Marçal e sobre o que ele fez para provocar a revolta dela. Não importaria.

Datena não. Datena está sendo louvado por muitos que dizem entender perfeitamente a reação e que teriam feito a mesma coisa. Afinal, não suportariam escutar "você não é homem". Ser homem é, portanto, ter o direito de tacar uma cadeira na cabeça de quem ousa dizer que você não é homem. Outros homens fariam o mesmo. Tabata Amaral já escutou coisa muito pior de Marçal e, sabendo que se perdesse a cabeça estaria fora da disputa, precisou se manter centrada, educada, comportada, disciplinada. Uma mulher não pode perder a cabeça. É importante que pensemos na inversão proposta no texto para ajudar na compreensão de como o debate ideológico tem sido central nessas eleições.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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