Palmeiras tem tolerado violência de gênero
Caio Paulista, lateral palmeirense, foi acusado de bater na ex-namorada. Quando a notícia veio a público, às vésperas do jogo contra o Criciúma, o Palmeiras chamou Caio Paulista para saber a versão dele. Ele negou. E o Palmeiras disse: bora pro jogo então, meu filho, porque você está escalado. Nada para ver aqui. Circulando.
Dois dias depois, tomando conhecimento do registro de um BO contra o atleta, o Palmeiras soltou uma nota dizendo que não tolera violência de gênero. Mas vejam, na prática tem tolerado.
Tolerou o machismo de Abel Ferreira contra a jornalista - que é uma espécie de violência de gênero - e está tolerando as acusações contra Caio Paulista.
Em relação ao que fez Abel, o Palmeiras aceitou de bom grado o pedido de desculpas dele, que não era de fato um pedido de desculpas, e deu o caso por encerrado. Foi pouco para a gravidade do que testemunhamos.
Já sobre a denúncia contra Caio Paulista, quando um depoimento do tipo feito pela ex-namorada chega a público o empregador deve, de bate-pronto, levar em consideração o que diz a suposta vítima.
Ah, mas Milly, o Caio é inocente até que se prove o contrário.
Sim, ele é inocente até que se prove o contrário. Mas, em casos de violência de gênero, as ações são um pouco diferentes daquelas, digamos, de Caio Paulista ser acusado de assaltar um banco ou promover esquemas de pirâmides financeiras.
Por quê?
Porque a palavra da suposta vítima tem valor de prova.
Por quê?
Porque em casos de violência de gênero o comum é que não haja testemunhas e porque os casos de falsas acusações são raros, raríssimos, desprezíveis.
Mas, Milly, mesmo sendo desprezíveis, mesmo sendo um caso em um milhão, se eles existem temos que considerá-los.
Verdade. Mas o procedimento deveria ser: Caio, meu querido, vamos afastá-lo até que as coisas se esclareçam. O caso é grave, as acusações são gravíssimas e precisamos proteger a instituição. Depois, se nada for provado, voltaremos a reintegrá-lo.
Uma atitude como essa respeita a palavra da vítima e respeita a necessidade de o atleta precisar organizar sua defesa. Uma atitude como essa é sinal de respeito às palmeirenses e às demais torcedoras na medida em que avisa de forma contundente a todas elas, e à sociedade, que esse tipo de acusação é levada muito a sério no clube a ponto de a reação ser imediata. Não é culpar Caio Paulista precocemente. É tomar a atitude mais responsável analisando o contexto desse tipo de crime. Não seria preciso um boletim de ocorrência para soltar nota ou agir.
Fico sempre intrigada sobre como recebemos esse tipo de denúncia com a postura de "ela deve estar mentindo, quer se dar bem" mesmo diante do histórico avassalador de que raramente é mentira e de que não há caso de mulher que tenha se dado bem denunciando. Nunca. Nem mesmo quando o acusado vai preso, é multado etc. A vida que é interrompida é a da mulher em 100% das vezes. Mas seguimos reagindo ao assunto como se vivêssemos numa sociedade mergulhada em uma pandemia de falsas acusações e não numa sociedade que testemunha uma pandemia de crimes contra mulheres.
189 comentários
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Jose Roberto Barreiro Goncalves
Essa sua postura lacradora é inadmissível, beira o desrespeito aos assinantes, se você não tem o que escrever simplesmente não o faça e nos poupe de suas opiniões oportunistas.
Marcelo Carriel Honório
Milly, é uma questão diretamente ligada ao direito do trabalho: nenhum empregador pode afastar seu colaborador por mais de 30 dias enquanto perdura os efeitos do contrato de trabalho, em decorrência de investigação policial, sob pena do funcionário poder rescindi-lo indiretamente. Veja o artigo 474, da CLT. Ademais, como o inquérito policial é inquisitivo, sem observação aos princípios do contraditório e da ampla defesa, o afastamento do jogador “até que se esclareça as coisas”, pode configurar ociosidade forçada, mais um elemento favorável à rescisão indireta do contrato do jogador.
Denize Maria Gomes Dias Buffo
Se isso não é julgar precocemente, nada mais é. Se for provada a culpa, virão as consequências, mas não antes. Você fez o mesmo com o Dudu, e logo provou-se a inocência dele. Mas não pediu punição para a mulher que forjou aquilo tudo.