Milly Lacombe

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Pablo Marçal cumpriu sua função eleitoral com méritos

A entrada do ex-coach Pablo Marçal na disputa pela prefeitura de São Paulo cumpriu uma missão importante: dês-radicalizar Ricardo Nunes. Nunes é bolsonarista e, como bolsonarista, traz com ele todos os aspectos extremistas e anti-democráticos da ideologia. Pensem em Jair Bolsonaro e em suas crenças sobre o modelo social ideal. E agora, com isso em mente, tentem encontrar diferenças entre os projetos de Pablo Marçal e de Ricardo Nunes. O que pensam sobre mulheres, famílias, Deus, pessoas negras, LGBTQs, direitos reprodutivos, direitos trabalhistas e segurança pública é idêntico. Idêntico entre eles e idêntico ao que pensavam homens como Mussolini, mas já não falamos mais sobre esse horror.

Ricardo Nunes estaria exposto por seu extremismo de direita se não tivesse contado com a providencial entrada do espalhafatoso Marçal nesse jogo. Quando Marçal berra, Nunes ganha. Quando Marçal ofende, Nunes ganha. Quando Marçal tem chiliques, Nunes ganha. Ganha sem precisa se mexer. Ganha quando é colocado como um candidato que está dentro dos contornos democráticos. O bolsonarismo não deveria ser democraticamente aceitável. O bolsonarismo não deveria ser jamais naturalizado.

Se a dobradinha e o teatro entre os dois extremistas são feitos de forma consciente ou não, não temos como saber. Mas seu efeito é imediato: muita gente vai votar em Nunes simplesmente porque ele não é Marçal.

E aí olhamos para o outro lado dessa balança ideológica e encontramos Guilherme Boulos e Tabata Amaral - que não tem nada de esquerdista mas é colocada nesse campo porque o pêndulo ideológico foi para a extrema-da extrema-da extrema direita e então qualquer um que não reproduza barbaridades passa a ser de esquerda.

Seria preciso compreender que Tabata e Boulos são os únicos que têm em seus planos de governo alguma preocupação com a crise climática. Seria, assim, apenas decente que fossem ambos para o segundo turno porque, a essa altura do sufocamento, pensar em votar em candidatos que não reconheçam que temos um problema climático é suicídio. Teríamos, nesse caso, alguém do campo da esquerda (Boulos) contra alguém do campo do centro-direita (Tabata) se enfrentando com respeito e dignidade, apresentando propostas e falando sobre uma cidade que ambos conhecem profundamente e desde a periferia.

De qualquer forma, mesmo com candidatos despreparados como Maria Helena e Datena, o tabuleiro dessa eleição seria outro sem Marçal - e, nesse caso, Nunes apareceria como o extremista que é. Mas, perto de Marçal, ninguém soa mesmo tão imensamente despreparado para um cargo público. E, desse modo, Nunes acumula votos que não teria e uma chance de sobrevivência mesmo tendo colocado São Paulo nas condições que a cidade está hoje.

Marçal não vai ganhar, obviamente. Mas vai sair dessa campanha ainda mais famoso. Vai vender mais cursos. Vai ser premiado por seu extremismo. Vai ficar mais rico. E, se estiver devidamente entediado dentro de seus castelos e aviões, sairá como candidato à presidência em 2026.

Pensem sobre tudo isso da forma que quiserem, mas só não deixem de levar em consideração o efeito Pablo Marçal para a política brasileira: ele atenua o abjeto extremismo bolsonarista e oferece nova vida a Jair Bolsonaro e sua turma.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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