Milly Lacombe

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Tite no Flamengo: melancolia, frustração, nepotismo e fiasco

Acabou a parceria entre Tite e Flamengo. Acabou aborrecidamente numa noite quente de domingo. Acabou com vitória e com a arquibancada manifestando sua raiva pelo trabalho executado. Acabou como poucos imaginavam que acabaria quando ele chegou com tantos sonhos e prestígio.

Tite mudou, como todos nós mudamos. Tite passou pela seleção e saiu transformado. Já não parece ter pelo jogo a paixão que um dia demonstrou.

Isso fica mais ou menos evidente não apenas pela forma enfadada como ele hoje fala em coletivas mas também pela insistência quase deselegante de enfiar o filho no centro de um palco que não é dele.

Titinho, Matheus Bachi, apareceu nessa passagem pelo Flamengo como se fosse alguém cuja carreira foi construída com esforço e recompensas. Dava coletivas, dava entrevistas e, à beira do gramado, se comportava como se fosse o treinador. O pai aprovou e encorajou essas atitudes sempre que teve a chance de falar sobre seu auxiliar.

Não é novidade que treinadores renomados tragam para perto de si seus filhos. Ramon e Ramonzinho. Dorival e Dorivalzinho. São muitas as histórias - e todas são criticadas por quem está atento. Acho que a relação entre Tite e o filho é agravada porque a CBF mudou sua cartilha de ética para poder acolher Matheus Bachi quando Tite foi para a seleção. E hoje Dorivalzinho se beneficia dessa alteração.

Até aqui, a única história que Titinho escreveu no futebol foi curtir postagens de conteúdo machista, misógino e LGBTfóbico nas redes sociais. Foi lá e aprovou com um clique muitos posts de violência contra a mulher. Na época houve notícias a respeito, mas a onda passou, a CBF calou e o jogo seguiu. Titinho pode ter aprendido, pode ter se transformado, pode até vir a ser um profissional de destaque em sua área. Mas, colado na barra da calça do pai, ainda precisa bater asas para dizer quem é e o que quer.

Acho que esse foi um dos pontos-chave para a passagem melancólica de Tite pelo Flamengo. A preocupação em fazer o filho brilhar demonstrou que Tite já está cansado e que havia preocupações que estavam tirando dele o foco pelo mais importante: fazer um time estelar jogar bem, se cercar dos melhores, deixar a massa feliz.

Pouco mais de um ano depois, a história acabou. Acabou com um Estadual e muitos fracassos. Hoje, Botafogo, Palmeiras e Fortaleza são os times a serem batidos. O Flamengo não conseguiu se manter competitivo, nem encantar. Refletindo seu comandante, jogava cabisbaixo, aborrecido, tristemente. Tite quererá dar a volta por cima? Depende dele. Talento Adenor tem de sobra.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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