Devendo futebol, seleção incorpora o discurso motivacional do coach
Vai dar certo. Vamos conseguir. Precisamos estar unidos. Vamos melhorar. Todos somos responsáveis. Vamos atingir o que queremos. Temos que acreditar mais. Vamos respeitar os processos. Nossa obrigação é acelerar nos processos. Só conseguiremos saída se todos trabalharem em prol de [insira qualquer coisa]. Quando chegarmos ali na frente veremos que tudo isso valeu a pena.
Essas foram algumas das frases usadas por Dorival Jr. na coletiva dada antes do jogo com o Chile. O pensamento positivo venceu o planejamento estratégico. Aliás, se existe um planejamento, a gente não sabe qual é. Mas o discurso do "vai dar certo" está lá, vivo e pulsante.
Para tirar a responsabilidade de Dorival pela derrocada ao mundo dos "coaches" vamos lembrar que, na Copa do Mundo do Qatar, Tite mandou pintar as paredes da concentração com frases motivacionais. "Concentrem e desfrutem". "Coragem". "Preparem-se bem para merecer vencer". "Mentalmente fortes". ""Determinação", "Trabalho", "Força", "Equilíbrio".
Tudo em letras garrafais pelas paredes. É a pablomarçalinização do futebol.
A tradução imediata da palavra "coach" é "treinador", mas o uso ganhou outros significados para incorporar os homens que entram na vida das pessoas para, como um treinador, organizar e motivar. Nesse sentido, nem todo coach usa salmos para incentivar o cara a sair da cama, verdade, mas as mentorias oferecidas raramente escapam dessa busca pelo pensamento positivo.
Funciona? Talvez funcione se, para além do "vai dar certo" existir planejamento, filosofia e preparação. Sem planejamento e preparação não tem muito como ficar repetindo mantras e esperar pelo melhor resultado. Não no futebol. E, naturalmente, seria preciso investigar por que viemos dar num mundo em que a função de coach motivacional se faz necessária
É desesperador escutar uma coletiva com esse tipo de subterfúgio motivacional. Tanta coisa podemos falar sobre o futebol, suas táticas, estratégias, planejamentos e estamos perdendo tempo com platitudes e frases vazias. O que será da seleção brasileira de futebol?
No final da coletiva alguém perguntou como lidar com os contra-ataques do Chile e a resposta passou pelo: temos que buscar o resultado lá fora, precisamos estar alertas, fazer nosso melhor. Beira o insuportável.
Dorival é um treinador multicampeão. Entende muito de futebol. Assim como Tite e Diniz. Se o problema da seleção fosse o nome do treinador acho que todos concordariam que, depois de tanto tempo de fracassos, teríamos sido capazes de encontrar o nome certo. Mas não existe nome certo quando tudo ao redor está errado.
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