Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Ganso, o fora de série

Paulo Henrique Ganso teve a chance de abrir o placar contra o Flamengo no Fla-Flu desse 17 de setembro, dia de lua cheia e eclipse. Ganso não perde pênalti. É craque. Relaxa, torcida tricolor. Vai dar bom. Ele vai converter.

Ganso perdeu. Rossi defendeu.

Ganso abaixa a cabeça e lamenta. O primeiro tempo termina em seguida, Ganso sai cabisbaixo. A torcida emudece. Era a chance. O Flamengo foi melhor durante todo o primeiro tempo, o Fluminense não jogou nada e aí o cara perde o pênalti.

Ganso volta para o segundo tempo e no primeiro toque na bola eu penso: ele voltou mordido com o pênalti perdido e ainda mais a fim de decidir esse jogo. Não se abalou, muito pelo contrário. Vai pegar para ele a responsabilidade.

E é exatamente o que Ganso faz. Com dois passes absolutamente geniais ele decide o Fla-Flu. Um deles, feito de costas para o lance. O outro, convidando o volante a virar ponta. Fluminense dois, Flamengo zero.

Ganso é um fora de série, um gênio, um poeta. Mas é um jogador considerado lento e pouco marcador para o tedioso futebol moderno. Não é, pela avaliação liberal feita sobre o jogo, eficiente. Eficiência. Que palavra horrorosa.

O que é ser eficiente? É, nesse mundo do avesso, dar resultado. Eficiência é o oposto de poesia se por poesia a gente compreender o sentimento que temos em relação a coisas, a circunstâncias, a ocasiões.

Ganso joga sem bola, joga por música, joga de costas, joga de lado, joga abrigando as coisas mais sagradas que existem. O respeito que ele tem pelo jogo poucos ainda têm.

Mas Ganso não serve mais para esse jogo de eficiência e resultados. Não pode ser convocado porque é lento e não marca. Nada disso é verdade. Ele não é lento, ele apenas sabe quando correr, quando parar, quando desacelerar, quando marcar e quando não marcar para se manter livre para receber a bola.

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Ganso está na melhor fase de sua carreira. A mais madura, a mais poética, a mais musical. É uma pena que jogadores como ele não sejam valorizados como deveriam. Quando repetem que a geração atual é fraca não pensam que talvez seja fraca porque estamos formando marcadores e finalizadores e não mais criadores. Enquanto Ganso estiver em campo eu estarei assistindo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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