Milly Lacombe

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Corinthians vence sua 5º Libertadores jogando contra o ódio da Conmebol

Fotos e vídeos do ônibus em que o Corinthians circulou pelo Paraguai chocam: assentos esfarrapados, sujeira, falta de segurança. Para a Conmebol, tudo normal. Entrem e não reclamem. Já fazemos muito de organizar esse torneio chato, sem público, fornecendo para as emissoras de TV imagens desfocadas e com partidas a cada dois dias. É no batidão mesmo. Não queriam tanto jogar bola? Pois então.

A Conmebol detesta o futebol feminino e prova isso fingindo que promove a disputa sul-americana. A Libertadores das mulheres acontece no formato de Copa do Mundo sem nenhum apoio, promoção, incentivo. A de 2024 ia ser no Uruguai, mas, dias antes, a Conmebol avisou que mudou de ideia. Vamos para o Paraguai e não se fala mais nisso. Virem-se.

No Paraguai, quase ninguém sabe da competição. É um torneio secreto. Com esse planejamento bem executado, o jogo da final entre Corinthians e Santa Fé estava rigorosamente vazio. Uma imagem triste, a estética do ódio e da misoginia.

O Corinthians venceu as colombianas do Santa Fé, mas ambas as equipes estavam lutando contra um inimigo comum: os executivos da Conmebol.

Existem muitas maneiras de dizer que você detesta alguma coisa. Uma delas é justamente fingir que promove enquanto atua para esvaziar, sucatear e depois dizer: viu, ninguém veio, ninguém liga, ninguém quer essa joça.

O Corinthians venceu por 2x0 porque foi superior no primeiro tempo. No segundo, cansou, revelando o que acontece quando o organizador do torneio faz um time jogar cinco partidas em 13 dias.

Mas, mesmo exausto, trata-se de um timaço recheado de jogadoras excepcionais.

Gabi Zanotti voltou de um longo e dolorido inverno, e voltou brilhantemente. Vic Albuquerque é craque. Duda Sampaio é taticamente perfeita. Yasmin, polivalente. Difícil ganhar desse elenco. Um trabalho que vem sendo construído desde 2016 e que começou com uma pesquisa que indicava que a torcida corintiana é majoritariamente composta por mulheres.

Quinta Libertadores para o Timão. Contra as rivais. Contra a Conmebol. Contra o sexismo. Contra o ódio daqueles que estão, supostamente, trabalhando para promover o futebol feminino.

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Augusto Melo estava lá? Não. O presidente postou alguma coisa em sua conta de Instagram? Até a hora da final começar, nada. Nem um stories sequer. E ninguém reclamou de sua ausência ou sua negligência. Mas quando Leila Pereira faltou à final feminina de 2022 chiaram rios de rancor e por muito tempo. Se é mulher e presidente, é obrigada a ir. Homem pode faltar. Ah, o machismo e a misoginia. Se esse fosse um desvio moral apenas da Conmebol estava bem fácil de ser resolvido.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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