Como John Textor pode nos ajudar a entender o machismo contra Leila Pereira
O presidente do Botafogo se autoproclamou uma liderança no combate à manipulação de resultados e à corrupção no futebol. Armado de suas boas intenções, foi a Brasília falar com a CPI das apostas dizendo ter provas, soluções etc e tal. Passou a ser citado por muitos como o cara que ia aprumar as coisas.
Enquanto Textor pavimentava seu caminho como liderança contra a manipulação de resultados, sua colega Leila Pereira fazia o mesmo como liderança feminista. Passou também a ser citada como a dirigente que iria melhorar a vida para as jornalistas no futebol. Para efeito dessa reflexão não importa saber se ambos são de fato lideranças nessas áreas (não são); importa saber como se colocaram e como foram percebidos.
Então, tanto John Textor quanto Leila Pereira cavaram seus lugares em um tipo de liderança contra coisas que nos prejudicam, certo?
Isso estabelecido, vamos lembrar que, diante do silêncio de Leila Pereira sobre contextos de machismo envolvendo o Palmeiras (torcedores, treinador, atleta), houve uma gritaria imensa vinda especialmente de homens que diziam ser um absurdo ela não se manifestar de acordo com o proclamado ativismo.
Não é feminista coisa nenhuma, diziam pessoas que não têm muita noção a respeito das camadas do feminismo. É meu direito criticar! Não vão me dizer sobre quando eu posso e não posso falar! (Como se estivéssemos tentando calá-los e não corrigi-los). Tem que cobrar sim! Não era feminista? Agora mostra!
Alertados pelas feministas por estarem adotando comportamentos machistas para supostamente lutar contra o machismo, alguns deles se enfureceram ainda mais.
Mas a vida corre rápido.
Luiz Henrique, atleta de Textor, é suspeito de estar envolvido em esquema de apostas. Os indícios são sólidos. Tem comprovante bancário. O caso parece grave. Textor não se posicionou de modo a defender sua bandeira de salvador da lisura no jogo. Eu esperei alguns dias para ver se haveria um barulho parecido com aquele jogado para cima de Leila Pereira. Afinal, era em nome da coerência, não é mesmo? Houve? Zero. Ninguém cobrou publicamente - ou furiosamente - uma posição de John Textor.
Não quero aqui fazer um debate sobre o silêncio de Textor. Assim como eu mesma teria adorado ver Leila se manifestando nos casos envolvendo o Palmeiras, sei que cobrá-la seria apenas ceder ao machismo que corre em minhas veias. Agora, diante da completa falta de indignação geral com o silêncio do CEO botafoguense em relação a uma luta que ele chamou para si, acho que fica comprovado como o machismo e a misoginia turvam nossa compreensão e nossa lógica.
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