Milly Lacombe

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De férias com a ex

A ex-mulher é uma instituição da lesbiandade. Como qualquer outra identidade, as lésbicas estabeleceram algumas marcas culturais e a ex-mulher é um monumento. Diz a piada que casamento de lésbicas reúne sempre multidões porque a quantidade de ex-mulheres e de ex-namoradas que precisam ser convidadas é imensa.

Tenho com minhas ex-mulheres uma relação de família. A gente se frequenta, se fala com impressionante regularidade, liga para saber se está bem, se precisa de alguma coisa, se quer conversar. A gente se conforta, se respeita e se admira. Entre as muitas maravilhas da lesbiandade eu diria que essa é uma das melhores.

Claro que nem toda relação lésbica vira amizade profunda, mas o número de relações que faz esse caminho é bastante grande a ponto de chamarmos de regra.

A partir desse 30 de outubro, saio de férias com minha ex-mulher. Vamos para nosso lugar predileto no mundo, a África do Sul. É uma semaninha, mas uma semaninha de puro deleite, descanso, passeios, comida boa, vinícolas. Férias, afinal.

É a segunda vez que vamos juntas, já na qualidade de ex, para a terra de Nelson Mandela. Um voo de apenas oito horas entre São Paulo e Joanesburgo é um dos atrativos para uma viagem de sete dias para fora do Brasil. Voo direto, o que é ainda mais importante. Voo feito por companhia brasileira, a Latam, também é bacana. Falo isso porque não faz muito tempo até o presidente Lula se enganou ao dizer que não havia voos diretos entre o Brasil e o continente africano. Há. Foram interrompidos por um período na pandemia, mas voltaram.

Brasil e África estariam ainda mais próximos se existisse um voo entre Recife e a capital da Mauritânia. Uma viagem que levaria três horas. A ideia de que o continente africano é um território distante e inacessível é insensata. Viajar para a África deveria fazer parte dos sonhos de consumo dos brasileiros. É tão perto quanto ir para Miami ou Orlando.

Já fui de São Paulo para Angola com a angolana TAAG. Já fui para a África do Sul de South African Airways e, agora, com as novas rotas da Latam, os caminhos ficaram mais possíveis e - importante - as passagens ficaram ainda mais baratas. Para uma canceriana com ascendente em touro, sair de casa é sempre um desafio, então essas facilidades são decisivas na escolha do destino.

Brasil e África do Sul têm mais coisas em comum do que podemos supor. Histórias bastante parecidas, clima também parecido, cultura vibrante e alegre. Voltar a lugares que conheço é uma das coisas que mais gosto de fazer porque o familiar me cai bem.

Na hora de fazer turismo tenho tentado jogado meu olhar para os lados mais do que para cima. O Norte Global, que tantas dores causam ao mundo, talvez não mereça mais nossa visita.

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Os continentes latino-americano e africano sabem fazer mais do que receber: eles hospedam. Hospedar é ter interesse pelo outro e não apenas pelo que o outro pode oferecer. Ser tratado com dignidade, com afeto, com respeito são coisas que hoje me fazem escolher para onde vou. Nas suas próximas férias, olhe para os lados, fica a dica.

Quem quiser acompanhar a viagem que farei com minha ex pode seguir minhas redes sociais. Agora é fazer a mala e embarcar. Nos vemos na volta. Até lá.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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