Gabriel Barbosa, uma história rara de beleza, imaturidade e individualismo
Gabriel Barbosa é craque. Nada para se debater aqui. É também ídolo da massa rubro-negra. Outro fato. Nasceu com um talento fora-de-série para encontrar o caminho do gol. Marrento como devem ser marretos aquele que crescem em situação de vulnerabilidade e precisam sobreviver. A marra é ferramenta de resistência. Nada de errado com ela. Gabriel é o que é porque a marra o fez derrubar muros. A marra é necessária para não deixar que o mundo te soterre.
Se a história acabasse aí não haveria coisa alguma a ser debatida sobre Gabriel. Fases boas e fases runs fazem parte do futebol. Deixar o clube em que você se consagrou também é caminho absolutamente normal. Acontece mais do que não acontece. O garoto que precisava andar quilômetros para conseguir treinar chegou onde apenas alguns humanos chegam. Ídolo, gol milagroso em final, adorado por crianças, tatuado na pele de muitos flamenguistas. Gabriel deu uma espiada dentro do Olimpo e foi convidado para tomar uma taça de vinho com a turma.
E é aí que a coisa degringola. Gabriel não é um Deus. E só é o craque que é porque ele existe em uma coletividade. Sem os passes de Arrascaeta, sem as tabelas com Bruno Henrique, sem os lançamentos de Gerson, quem seria Gabriel? Mas o craque parece acreditar que vive num mundo só dele. O Flamengo é campeão e quem quer o centro do palco é ele. Pede que Deus perdoe as pessoas ruins como se pudesse se colocar ao lado de Deus nesses termos.
Gabriel não se implica nos erros, nos deslizes, nas falhas, nas fases ruins. É vítima segundo ele mesmo. Desse jeito fica difícil amadurecer. A masculinidade adoentada acredita que ser homem é fazer essas coisas: bater o pé, estufar o peito, jamais cair, nunca se mostrar vulnerável, evitar qualquer associação a fraquezas e deslizes, não pedir desculpas, não abaixar a cabeça. Gabriel está longe de ser o único Peter Pan do mundo do futebol. Homens feitos que se comportam como moleques, como crianças, como deficientes emocionais. Vivemos numa sociedade que exige que mulheres sejam maduras aos 13 mas permite que homens sejam moleques aos 40.
Ser homem não é nada disso. Ser homem é justamente assumir sua parte de responsabilidade nas derrocadas, reconhecer a queda, se implicar nas derrotas, levantar e seguir. com respeito às camisas que vestiu e às pessoas com quem se relacionou.
Gabriel é jovem e pode se transformar. Vai ser treinado por Diniz - agora no Cruzeiro - e seu jogo solidário. Um por todos, todos por um. Será que Gabriel conseguirá deixar seu Peter Pan ególatra de lado e se encantar pela coletividade altruísta proposta por Diniz? Vai ser interessante testemunhar o encontro entre ambos. De duas, uma: ou vai dar bom demais e Gabriel renascerá rapidamente ou a colisão entre eles fará um barulho tão estrondoso que acabará ferindo os dois e quem mais estiver por perto.
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