A seleção brasileira acabou e seria bom a gente conseguir falar sobre isso
A Venezuela não é exatamente uma potência no futebol embora tenha melhorado demais nos últimos anos. Ainda assim, tradicionalmente, não chega perto do que é o Brasil. Ou do que foi o Brasil.
Talvez tenhamos que abdicar da memória afetiva que temos com a seleção brasileira para podermos compreender o que o Brasil se tornou em campo.
O primeiro tempo do jogo contra a Venezuela foi até decente. Decente, claro, está longe de ser brilhante, memorável, criativo, arrebatador. Um dia fomos tudo isso. Não mais.
Fizemos um gol de falta, metemos bola na trave, tivemos chances. Vencíamos por um a zero e a postura já era aquela de "somos o Brasil! Respeita, porra!". Faz um tempo que tentamos nos impor no grito, na falta, na pancada. Em campo, a gente hoje vai no mano-a-mano com todas as demais seleções.
Mas logo no começo do segundo tempo, a Venezuela fez um golaço. Um gol tão bonito que se fosse feito pelo Brasil já teria Pacheco anunciando que os tempos de glória voltaram.
Na arquibancada, em jogo realizado na Venezuela, a torcida flertava com o transe. Quando o goleirão defendeu o pênalti de Vini, os venezuelanos foram ao céu. Parece que todas as torcidas latino-americanas de fato são apaixonadas por suas seleções. Nem isso temos mais. Nossa torcida, agora um tal de movimento verde-amarelo, foi privatizada. Privatizaram a forma de torcer, privatizaram nosso estado de espírito. Adestraram a arquibancada.
Comentaristas analisam faltas bem batidas e penaltis perdidos. Não tem muito mais para ser dito. Há craques, sem dúvida. Gerson é fora-de-série. Raphinha elevou-se a um lugar de mais brilhantismo depois de se reencontrar taticamente em campo - Obrigada, Barcelona. Vini é Vini. Savinho é bom demais. Luiz Henrique é craque. Não compactuo da ideia de que estamos nesse lamaçal porque nos falta talentos. Podemos não ter mais Zico, Sócrates, Pelé, Jair, Rivellino, Dirceu, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká etc. Mas temos elenco suficiente para montar timaços. O que nos falta não é jogador; é filosofia e amor.
Tudo lamentável, mas bastante verdadeiro. É o que nos tornamos. Não da noite para dia. Estamos nessa trilha desde 1986. Tem um passo-a-passo da tragédia bem registrado. Só sairemos desse lugar se formos capazes de aceitar que a seleção como a gente um dia a conheceu está mortinha. Podemos renascer, mas tem um trabalho de base a ser feito que não interessa muito aos donos do jogo hoje. Do jeito que está, para quem quer apenas embolsar uma grana e seguir com a vida, está bom demais.
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