Leila Pereira foi ver o Palmeiras ser campeão; e ai dela se não fosse
O Palmeiras das mulheres é campeã estadual. A conquista foi nos pênaltis e sobre o arquirrival Corinthians. Uma taça erguida com muita justiça por um time que tem melhorado demais nos últimos anos. Gosto da ideia de que somos sempre tão grandes quanto nossos maiores rivais. Não haveria Palmeiras sem Corinthians, e vice-versa.
O jogo foi disputado em Campinas, no Brinco de Ouro, quase sem público - e isso precisamos lamentar.
Como o Corinthians masculino jogou mais cedo em São Paulo a orientação da PM foi para que as duas partidas do Corinthians não ocorressem na mesma cidade, ainda mais porque sendo uma das partidas contra um grande rival os riscos de violência, segundo a Polícia, seriam grandes.
Podemos debater a análise de risco, mas esse seria um outro texto. O que acho que vale elaborar aqui é o interesse da federação paulista, da confederação brasileira, do Palmeiras e do Corinthians pelo futebol feminino. Era o segundo jogo de uma final que merecia ser disputada na casa palmeirense com estádio lotado. Um mínimo de vontade política faria todos os envolvidos acharem uma solução, nem que ela fosse a mudança do jogo masculino do Corinthians, que não era uma final, ou até mesmo a mudança da data do feminino.
Mas não. Ninguém quis pensar nisso. E as mulheres se mandaram para Campinas jogando em estádio com pouca gente, num horário estranho e afastado de uma casa que deveria ser sua também e não apenas dos homens. De frente para as câmeras da TV, víamos as arquibancadas do Brinco de Ouro da Princesa vazias. A imagem é forte e fica marcada. Quem liga a TV pensa: ninguém gosta mesmo desse esporte aí.
Mas, ao lado da pequena torcida, a presidente palmeirense Leila Pereira estava lá. Se não tivesse ido, levaria broncas medonhas dos "defensores de ocasião do feminismo". Como assim é mulher, presidente do clube e não vai ao jogo das mulheres? Ah, não pode.
Ninguém se importa se Augusto Melo, o mandatário corintiano, vai aos jogos das mulheres (raramente vai). Ninguém se importa se Mario Bittencourt vai ver as atletas do Fluminense em campo, se Landim vai ver as rubro-negras (não vai), se os mecenas do Galo vão ver o time feminino (não vão). O que importa é vigiar os passos de Leila Pereira em relação a tudo o que tem a ver com mulheres e o futebol.
Nas redes, muitos culpavam apenas Leila Pereira pelo jogo ter ido para Campinas e estar sendo realizado em estádio quase vazio. Leila não está nem aí para as mulheres, diziam. Não há dirigente dos times de série A ou B do masculino que ligue para o seu time de mulheres, essa é a verdade. São obrigados a montar elencos porque passou a ser exigência, mas eles não vão aos jogos, não brigam por mando de campo, não festejam as mulheres do time em suas redes sociais, não fazem nada além do que manda o regulamento.
Esses senhores são cobrados nominalmente pela negligência com que tratam seus times femininos? Não, não são. Leila não age de modo muito diferente de nenhum deles em relação ao futebol feminino, embora seja aquela que mais marque presença nos jogos das mulheres e outro dia tenha levado Abel Ferreira para ver uma partida. Mas os "defensores de ocasião do feminismo" não veem machismo em cobrá-la pelo futebol feminino como nunca cobraram nenhum dos homens.
Ah, não podemos mais cobrar Leila, então - dizem os que fazem uma força tremenda para manter o debate nadando no raso. Podemos sim. Pelas coisas certas. Que tal começar essa lista de cobrança pelos homens? Responsabilizar mulheres pela emancipação feminina é coisa de machista. Assim como responsabilizar pessoas negras pelo fim do racismo.
Seria importante começarmos a cobrar aqueles que nada fazem e sair do pé daquelas que fazem alguma coisa pela inclusão das mulheres no futebol. No mais, parabéns ao Palmeiras, campeão com justiça. Parabéns ao time que tem uma treinadora mulher, Camila Orlando, que tem feito um trabalho rigoroso e louvável no comando do Palmeiras. Que o Timão das minas, o maior de todos, não desanime. Derrotas doloridas fazem parte do caminho de gigantes.
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