O Botafogo somos nozes
O título desse texto, escrito propositalmente errado já que nozes não é plural de nós, foi inspirado no meme "as árvores somos nozes", um dos primeiros a viralizar no Brasil. Isso esclarecido, seria bom falarmos sobre o glorioso Botafogo, o time que tem a camisa mais bonita do mundo.
Mais uma vez, o Fogão enfrenta seus traumas. Líder isolado do Brasileirão, sobrando na Libertadores, time mais dinâmico, criativo e de futebol retumbantemente abrasileirado do país atualmente, o Botafogo, o botafoguense e a botafoguense olham para o espelho e veem o passado. Ah, vê coisa nenhuma, que coisa estúpida para se dizer, podem argumentar alguns que pensam como o dono do Botafogo - e me causa náuseas escrever isso porque time não pode ter dono, mas enfim -, John Textor.
Um mínimo de compreensão a respeito da alma humana sabe que traumas existem e que o futebol é um manancial deles. Se o jogo fosse jogado por máquinas não haveria trauma, obviamente. Mas como é jogado por homens e por mulheres, eles entram em campo, eles estão nas arquibancadas, eles estão nas salas, nos botequins, nos bares em que assistimos às partidas.
Negá-los é impedir que possam ser superados, e esse alerta deveria ser feito e não combatido histericamente.
Todos temos nossos traumas e sabemos o que sentimos quando finalmente conseguimos olhar para uma cicatriz e dizer: você faz parte da minha história e somos um. Pelo segundo ano consecutivo, o Botafogo é o time a ser batido. Ano passado, as coisas degringolaram no final, mas até a derrota por 3 a 4 para o Palmeiras, o time sobrava. Eu diria que até o segundo tempo dessa partida histórica, porque no primeiro tempo o Botafogo deu um show. Poderia ter facilmente feito cinco gols no Palmeiras.
Dois mil e vinte três inaugurou um trauma que, na vida de botafoguenses em geral, era quase esperado. Trata-se de uma torcida que é famosa por não confiar até o finalzinho, por celebrar uma certa melancolia, por acreditar que "tem coisas que só acontecem com o Botafogo".
Em certa escala, todos podemos nos identificar com esse estado de espírito. E por isso o Botafogo é universal.
Vem 2024 e o Botafogo encontra caminhos para renascer. Era improvável porque o trauma de 2023 foi inédito. Mas tem coisas que só acontecem com o Botafogo, então lá vem ele. Futebol bonito, cheio de ginga, de coragem, de drible, de brasilidade. A torcida lotando o Nilton Santos e em estado de transe. O resultado: o Botafogo pode encerrar o ano como campeão brasileiro e latino-americano. Um feito imenso e bastante raro.
Mas, claro, pode também fracassar em ambos e ficar com um gosto amargo. Em recente partida contra o Galo - o adversário da final da Libertadores - pelo brasileiro, perdeu a cabeça de forma inacreditável. Um alerta que fala da saúde mental do elenco. Ainda cria muitas chances, mas está com dificuldade de marcar gols. Uma trepidação que chegou em hora ruim, mas que é explicável. O time está muito perto de se consagrar de forma inédita e a palpitação é natural.
Seria preciso um trabalho emocional rigoroso, que se aproprie das dores e das cicatrizes e estabeleça novos horizontes, para fazer com que o elenco siga focado e escreva a história que está prestes a escrever. Não sei se está sendo feito - espero que sim. Futebol para vencer as duas competições o Botafogo tem. Como contadora de histórias, essa seria uma das mais belas a serem contadas - a da superação do sofrimento e a de uma retomada improvável que fala diretamente sobre a resiliência e a capacidade de dar a volta por cima, essas qualidades tão incrivelmente humanas.
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