A vaia como direito da arquibancada: até onde é inteligente usá-la?
Nelson Rodrigues dizia que no futebol brasileiro se vaiava até minuto de silêncio. De fato, a vaia está presente em partidas desde os tempos mais primordiais. Há momentos em que ela é bem-vinda e até serve como ferramenta de alívio para o medo de perder. Mas, em outros, ela joga contra. Botafogo e Fluminense me fizeram pensar nela durante a rodada.
O Fluminense, numa luta destrambelhada para não cair, lotou o Maracanã para enfrentar o excelente Fortaleza, ainda candidato a título. A diretoria barateou os ingressos, a massa foi apoiar, o estádio estava bonito. O gol logo no começo fez a galera explodir. Parecia que seria um jogo até tranquilo, mas, claro, o rival - um dos melhores times do Brasil - se impôs e empatou antes de virar.
A partir do empate, podíamos escutar algumas vaias. Como o gol saiu de um erro de Martinelli, tome vaia quando o jovem atleta pegava na bola. Verdade que jogadores precisam ter saúde mental e emocional para navegar esse tipo de situação. Mas coloquemos tudo em contexto.
Primeiro: com o time precisando vencer para não cair será que vaiar desse modo jogadores específicos ajuda ou atrapalha? Você jogaria mais bola sendo vaiado ou sendo apoiado a despeito do erro? Vamos lembrar que estamos falando de um dos principais jogadores da conquista da Libertadores em 2023.
No intervalo, mais vaias
Não me parece ser esse um recurso inteligente se a ideia é ajudar o elenco a superar a fase ruim.
O mesmo fez a torcida do Botafogo, único que disputa não um, mas dois títulos. Os dois mais importantes: brasileiro e Libertadores.
Diante do Vitória, jogando em casa, a arquibancada ficou na bronca porque o time fazia uma apresentação bastante abaixo do normal. Verdade. O Botafogo estava mal. E alguns em campo estavam piores do que outros.
As vaias começaram com Tchê Tchê e depois ganharam corpo. A expressão dos jogadores era de tensão, quase constrangimento. Será que a vaia é a melhor alternativa se a intenção é nutrir o time para a principal semana de sua história recente?
A torcida do Palmeiras também andou vaiando o time por causa de apresentações que julgou estarem aquém da capacidade do elenco. Abel reclamou, com razão. O Palmeiras, há quatro anos, é uma potência competitiva. Esse ano já levou o Estadual no masculino e no feminino. Será que não caberia o apoio irrestrito? No erro e no acerto? Na vitória e na derrota? Na glória e no fracasso?
Acho que a torcida do Corinthians deixa lições. Ela vaia, mas espera sempre o jogo acabar e, então, quando julga apropriado, vaia coletivamente. Essa atitude me parece mais coerente com o amor que a gente diz que sente.
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