Milly Lacombe

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PEC contra aborto não é cortina de fumaça

Sempre que a luta para tirar os mais básicos direitos das mulheres, ou para ampliá-los, entra na cena política o que mais se diz é: cortina de fumaça! Não é hora! Deixemos isso para depois! Vai atrapalhar a luta mais importante! Aquietem-se.

No caso da nova PEC que pretende tirar ainda mais direitos que deveriam ser básicos e universais e que prevê punição até para a mulher que buscar aborto em caso de estupro, o que se diz é que é cortina de fumaça para ofuscar a tentativa de golpe de estado tramada por Bolsonaro e sua turma.

A despeito da gravidade do plano bolsonarista-militar o tema aborto é urgente e deve ser tratado como prioritário.

Aborto é questão econômica, política e social. Diz respeito à forma como mulheres são tratadas, domesticadas, adestradas, disciplinadas, limitadas, julgadas, coisificadas. Não tem absolutamente nenhuma relação com a suposta vida do feto. Ninguém sabe se feto tem vida ou contém alma, ninguém jamais saberá. E, como não sabemos e jamais saberemos, esse debate é falso.

Quem acredita que feto é alma apenas não aborte e ponto final. Seria o mais simples dos debates se ele não fosse, na verdade, um debate sobre as coisas que não estão sendo ditas.

O controle sobre a sexualidade da mulher é mais antigo do que a civilização. É esse o debate e é por isso que ele jamais será cortina de fumaça para coisa alguma.

O que os defensores de fetos querem colocar em pauta é o controle ainda maior de corpos femininos. Se a preocupação fosse com alguma vida, estaríamos falando de políticas reprodutivas e não tentando dar a fetos direitos que nenhuma mulher desse país tem.

Falar de política reprodutiva é falar de licença maternidade, creches públicas e gratuitas, saúde pública e gratuita, transporte público e gratuito, ensino publico e gratuito, pensão alimentícia para pais que fogem da responsabilidade, educação parental, educação sexual.

Quem se importa com a vida se importa com a vida de crianças nascidas e que moram em condições de vulnerabilidade. Quem se importa com a vida se importa com a vida de inocentes mortos pela polícia em ações desastrosas, imorais, criminosas e regulares em favelas e periferias.

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Chega de colocar o debate sobre aborto em um lugar menor ou menos importante e chega de debater falsos debates. Até que as mulheres tenham direitos amplos e irrestritos a políticas reprodutivas falar de aborto jamais será cortina de fumaça.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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