Foi bonita a festa, pá, mas teve misoginia sim senhor
"Os jogadores também cantaram: 'No Monumental, o galo virou galinha', numa provocação ao Atlético-MG". Essas são as palavras contidas no relato do repórter Bruno Braz, que estava em Buenos Aires, a respeito da festança botafoguense depois do jogo.
A misoginia é escancarada e passa longe de ser inofensiva - pelo contrário. O feminino é sempre menor, desprezível, mais fraco e debochável, é o que a paródia comunica.
Galinha sugere outras coisas além do feminino de galo. Sugere comportamento sexual ativo, e isso é inaceitável numa sociedade misógina. Os maiores xingamentos que uma mulher pode receber têm sempre essa conotação: a do comportamento sexual farto e ativo.
É um grito ofensivo, certamente havia mulheres na festa e algumas devem ter se sentido mal aos escutar homens cantando com alegria um refrão tão violento. Mas mesmo que nenhuma tenha notado, a cantoria é preconceituosa e não poderia ter acontecido. A misoginia é o mais plástico dos preconceitos: ele passa rastejando e sem se fazer notar. Seria sempre recomendável apontá-la no momento em que ela pode ser vista.
É ao diminuir o feminino, seja através de cantorias vestidas de brincadeiras ou de leis, que a sociedade autoriza que todos os dias nossos corpos sejam abusados, assediados, invadidos, estuprados, assassinados.
Para que a sociedade mude é preciso, mais do que punição, educação. Houvesse meia dúzia de homens atentos na festa alguém teria interrompido a cantoria e mudado a letra. Nessa hora alguém pode argumentar: mas se as mulheres presentes não reclamaram, então dane-se. É aqui que a gente tem que explicar que lutar contra o machismo e a misoginia é dever de homens. Por um milhão de motivos, uma mulher presente ao evento não teria como mandar pararem de cantar. Ela seria ridicularizada e viraria alvo de violências. É bastante difícil ser mulher e gostar de um esporte que nos detesta. É bastante perturbador ter que interromper um momento de alegria, de delírio e de êxtase para fazer o papel de chata e pedir: não façam isso com a gente.
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