Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Muito se fala sobre o que John Textor fez pelo Botafogo. Mas e o oposto?

John Textor chegou com seus bilhões para, na visão de muitos, salvar o Botafogo. O time tinha subido da série B para a A, estava em festa, mas ainda não havia confiança de que se manteria no lugar de onde jamais deveria ter saído: a liga principal. A torcida, sofrida por anos e anos de administrações negligentes, temia viver nesse elevador maldito que leva clubes da A à B.

E eis que surge um bilionário estadunidense disposto a comprar o Botafogo. Festa, delírio, livramento.

Auxiliado por Durcesio Mello, presidente do clube e botafoguense apaixonado, Textor começa a se cercar de profissionais que entendem do jogo. Monta um time competitivo e passa a frequentar o Nilton Santos no meio da torcida. Vê a paixão que o botafoguense leva ao estádio e, nessa hora, se envolve afetivamente - uma fraqueza no mundo dos negócios; uma potência no mundo do futebol.

Ao contrário do que acham, futebol não é negócio e time não é empresa. Lembro de ter visto Textor chorando em campo em alguma partida em 2022, quando o Botafogo virou de forma mágica, e pensado: esse aí foi fisgado.

Textor começou a entrar em lives de botafoguenses feliz da vida depois de vitórias. Se misturou à massa. Dançou e foi feliz. A despeito das inúmeras críticas que possamos fazer a ele e a seus negócios - que hoje operam no vermelho com um rombo de três bilhões de reais - ele é carismático. Seria ainda mais se aprendesse a falar a nossa língua, obviamente. O que o impede, será?

Mas veio 2023 e Textor fez aquele papelão de "não aceito a derrota, foi roubado, vou ensinar o Brasil a jogar esse jogo". Uma lástima. O Botafogo, sob muitos aspectos, foi um timaço em 2023. Encantou, levou multidões ao estádio, fez chover. E aí desandou.

Acontece. É futebol. São relações. É o imponderável. Mas o CEO não curtiu e fez pirraça.

Veio 2024. Ninguém mais acreditava que o Botafogo, agora reformado, fosse para as cabeças. Mas o time foi. Arthur Jorge olhou para o elenco e montou um esquadrão que joga com alegria, joga para frente, joga bonito. O Nilton Santos voltou a lotar e a vibrar.

E então o futebol resgatou o Botafogo: campeão da América. Aos prantos, Textor dedicou a conquista a quem de direito: à torcida. O choro do CEO é bastante revelador. Textor se apaixonou. Pelo futebol, pela cultura brasileira, pelo Botafogo, pela estrela solitária, pela camisa mais bonita do mundo.

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A estrela que estampa o escudo botafoguense é, na verdade, o planeta Vênus. Vênus é o planeta que rege a força do amor, dos afetos, da conciliação. É nascer, morrer, renascer, viver. Embora seja um planeta, é popularmente chamado de Estrela D'Alva, e é a primeira a ser vista antes do sol nascer. É o prenúncio da aurora e de um novo começo.

Textor comprou um dos maiores times do mundo, Deveria se colocar em posição de prece em direção a Vênus e agradecer todos os dias por estar sendo arrastado por essa trilha de amor e de paixão. O Botafogo, tenho certeza, inaugurou sentimentos no executivo gringo. O Botafogo fez circular afetos de modos que o CEO jamais poderia imaginar. Com todo o respeito ao Lyon e ao Crystal Palace, nenhum deles teria essa capacidade. Tomara que Textor se deixe levar pelas subjetividades e mistérios desse ambiente chamado futebol, um terreiro da vida, um lugar onde a concretude da existência não faz sentido nenhum e onde afetos circulam livremente.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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