Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Esquerda se apequena quando não consegue lidar com acusações contra os seus

O professor Alysson Mascaro, marxista carismático e intelectual de inteligência apurada, está sendo acusado de crimes sexuais por dez alunos. Se Mascaro estivesse no campo bolsonarista, a esquerda que agora culpa as vítimas e o veículo que apurou e publicou a matéria (o Intercept), estaria escrevendo textos e fazendo vídeos furiosos contra o professor. Mas, como se trata de alguém do campo da esquerda, bem, vamos usar aqui todas as ferramentas do machismo para desacreditar a matéria, os jornalistas, o veículo e as supostas vítimas.

Ah, mas Milly, não é machismo se as pessoas que alegam terem sido abusadas são homens. Pausa para a gente falar sobre isso.

O machismo ensina a todos e a todas nós que, na ocorrência de crimes sexuais, são as vítimas que devem ser acusadas, desmoralizadas e responsabilizadas. Trata-se de uma ferramenta bastante antiga e eficaz - e que está institucionalizada.

É também o machismo e a misoginia que permitem que homens em situação de poder abusem livremente dos corpos que eles querem controlar e submeter. Essa é uma tecnologia que nasceu antes mesmo da civilização e que vitimiza, na vasta maioria das vezes, corpos femininos mas que, como sabemos, é também usada contra corpos masculinos.

Então, a esquerda que reage culpando o veículo e a vítima no caso de acusação de crimes sexuais, seja contra homem ou mulher, está fazendo uso das tecnologias do patriarcado para proteger os seus.

Nada disso fala sobre colocar a culpa em Mascaro de forma prematura. Fala das formas carregadas de machismo com as quais lidamos com acusações graves e perversas de crimes sexuais.

Haverá uma investigação e, dela, sairá uma conclusão a respeito do caso envolvendo uma outra grande estrela do campo da esquerda.

O que não ajuda e apenas atrapalha é dizer inverdades como "o Intercept só citou fontes anônimas" numa tentativa de sugerir que o texto tenha interesses outros que envolveriam acabar com a vida de Mascaro. Não. As fontes têm - infelizmente para aqueles e aquelas que, como eu, aprendem muito com Alysson Mascaro - nome e sobrenome. Nomes que foram protegidos por questões que deveriam ser óbvias: para respeitar os envolvidos, inclusive o professor em seu direito de defesa.

Outra mentira: não há materialidade.

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Há mensagens, há documentos, há, segundo o Intercept, muitos indícios. Jornalisticamente, não haveria como uma matéria como essa ser escrita sem que os repórteres tivessem acesso a documentos. O site não divulgou nada disso porque divulgar seria expor tanto Mascaro quanto aqueles que o acusam. Todo o material probatório deve ser entregue à polícia. Os colegas esquerdistas que atuam agora para desmoralizar o veículo sabem de tudo isso, mas só usam esse conhecimento para os casos em que o denunciado é do campo da direita.

Essa mesma esquerda que se organiza para descredibilizar as denúncias, os jornalistas e o veículo é a que caiu sobre Anielle Franco quando ela disse ter sido vítima de assédio de Silvio Almeida. É a mesma que não percebe o machismo e a misoginia em Lula, em ministros de Lula, em amigos de Lula. É a mesma que parte para cima de Janja em toda a oportunidade. A mesma que debocha de políticas identitárias. A mesma que passa por bloqueio cognitivo quando crimes de violência sexual atingem seus companheiros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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