Gabigol: um inusitado e bem-vindo embaixador para o futebol feminino
Gabriel Barbosa foi ao Podpah, um podcast bastante popular e renomado por fazer entrevistas longas e descontraídas, e, como dizem por aí, hablou.
O ex-jogador do Flamengo é uma pessoa interessante e eloquente. Gabriel não se acanha ao falar de si e das questões pelas quais passou. Fala de modo a transmitir sinceridade e autenticidade. A entrevista foi divertida como um todo, mas quero falar do finalzinho dela.
Um dos entrevistadores pede para Gabriel contar alguma coisa que ele gosta, mas tem vergonha de admitir. Gabriel diz que não tem vergonha do que vai dizer, mas seus amigos não entendem por que ele gosta disso: futebol feminino.
Os entrevistadores não estavam preparados para essa resposta e não sabiam o que fazer. Pelo menos sabiam que tirar sarro não seria correto e seguraram a onda. Gabriel então falou do Barcelona, de Alexia Putellas e do Corinthians. Disse que se amarra nos jogos, que ele é que não entende por que os caras não gostam. Disse que quer um dia trabalhar com o futebol feminino. Os entrevistadores, sem ferramentas para sair do lugar, queriam voltar para o masculino, para Fórmula 1, para videogame, para (e esse é o preço que mulheres pagam de gostarem desse tipo de entrevista) o "tamanho da peça" - assuntos bastante masculinos e que todos dominaram durante a entrevista de forma satisfatória. Fiquei com a impressão de que Gabigol gostaria de ter falado mais sobre futebol feminino, mas não encontrou com quem tabelar. Havia um milhão de perguntas que poderiam ter sido feitas e que não foram porque os entrevistadores estavam visivelmente deslocados. Uma pena.
Mas Gabigol deu a letra. Se a CBF tivesse um pouco mais de interesse pelo futebol feminino, encontraria um caminho de unir as duas paixões buscando embaixadores no masculino. O mesmo machismo que marginaliza o futebol feminino é aquele que só escuta que o jogo é bom quando um ídolo bem adequado ao que se espera de um homem-macho fala que o jogo é bom, que tem potencial para ser melhor, que vale a pena. Gabigol fez pelo futebol feminino o que nenhum outro jogador em atividade jamais fez. Obrigada, Gabriel.
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