Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

CBF aplica "golpe do feminismo" para demitir diretor

É uma vergonha que tenhamos que seguir denunciando não apenas o absurdo do assédio no futebol, mas também o descaso com que ele é tratado por todos os envolvidos.

A amiga Alicia Klein traz detalhes em sua coluna sobre o caso de assédio sexual contra a CBF com citação ao diretor de comunicação, Rodrigo Paiva. O processo foi movido pela única ex-diretora a passar pela instituição, Luísa Rosa. O documento era conhecido há bastante tempo, a condenação que citava o diretor de comunicação aconteceu em agosto e, ainda assim, Paiva seguia forte dentro da Confederação. No dia 18 de dezembro, foi finalmente demitido - e por justa causa, o que poderia indicar que a demissão se dá por ocasião da condenação por assédio que o envolve. Mas reflitamos.

Se a condenação é de agosto seria de se esperar uma demissão imediata. Ou será que a demissão está relacionada ao apoio extra-oficial que Paiva parece ter oferecido dias atrás à candidatura de Ronaldo? Estaria a CBF surfando na onda do "feminismo" para se livrar daquele que ela acha que a traiu? Seria, realmente, o fim de uma picada indecente e covarde se assim fosse. Usar a luta anti-machista para se vingar de uma suposta traição que nada tem a ver com assédio sexual seria grotesco. Mas como achar que não foi isso que aconteceu se a condenação por assédio é de agosto e Paiva seguiu trabalhando sem problemas até sugerir apoio a Ronaldo? Duvidar da nossa inteligência é acrescentar ofensa a um crime.

A colega e colunista Cris Fibe definiu em sua coluna no Universa o que é o "golpismo da masculinidade", termo criado pela pesquisadora Valeska Zanello, e aqui eu me aproveitei do pensamento delas para falar em "golpe do feminismo", que me parece ser o que fez a CBF nesse caso.

Mulheres que amam o futebol sabem que amam um esporte que as detesta. A administração de Ednaldo Rodrigues foi a que mais fez pelo futebol feminino, verdade, mas parece querer méritos pelo mínimo do mínimo. Não esperamos apenas um time razoável e competitivo em campo, esperamos direitos iguais e mais mulheres em situação de comando dentro da Confederação. Esperamos demissões imediatas em caso de condenação por assédio. Esperamos o fim dos casos de assédio. Esperamos poder, finalmente, amar um esporte que nos respeite em nossas totalidades. Não é pedir demais.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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