O futebol revela aquilo que o dinheiro não pode comprar
Os petrodólares já compraram tudo na Europa: museus, escolas, edifícios, terra, Igrejas, clubes, políticos, leis, Copas. Mas tem uma coisa que o dinheiro que vem da matança da vida nesse planeta não pode comprar: tradição.
O City - e antes dele o Chelsea - são clubes que não têm tradição no futebol. Por causa da inexplicável, indecente e imoral riqueza de seus proprietários (no caso do Chelsea, mais especificamente de seu ex), ambos saíram de um estado de mediocridade para o mundo dos trilhões dentro do qual quase tudo passa a ser possível: os melhores jogadores, os melhores treinadores, os melhores CTs, as melhores tecnologias, as táticas mais infalíveis. Tudo ao alcance de uma transferência bancária. Mas tradição, história, respeito, legado; essas coisas não estão à venda.
O professor de ciências políticas de Harvard, e autor de alguns best-sellers, Michael Sandel tem um livro delicioso que se chama "O que o Dinheiro não Pode Comprar". Ele trata da fúria avassaladora do capital que transforma tudo e todos em mercadoria oferecendo dados estarrecedores. Sandel explica como chegamos a essa fase do capitalismo, mas infelizmente não sugere como podemos sair dela.
De fato, não sabemos exatamente como parar de tomar esse veneno. Mas sabemos que, vez ou outra, o futebol oferece lições. A fase deplorável em que se encontra o time mais rico do mundo - o City - fala sobre o que o dinheiro não pode comprar. Quando a coisa desanda, não tem como nem onde essa camisa de tradição fabricada se segurar. Não tem lastro em nada. Uma história de sucesso encenada com os bilhões do petróleo e da exploração.
O time deve se recuperar, ainda que não possa mais sair desse lugar sem muitas cicatrizes e alguma vergonha - mas o prazer de ver elenco tão estrelar definhar publicamente a despeito de tanta grana e estrutura ninguém vai nos tirar.
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