A possível e absurda saída de Artur Jorge expõe só mais uma fratura das SAF
O cara ganhou Brasileiro e Libertadores, montou um time leve que respeitou o jogo no sentido de ser ao mesmo tempo ofensivo e seguro. Uma equipe que qualquer um e qualquer uma gostavam de ver jogar pelo simples prazer de assistir a um pouco de arte e competitividade. Depois de lavar a alma da torcedora e do torcedor, Artur Jorge pediu mais. Mais grana. Mas já não é muito dinheiro o que ele ganhou, perguntam por todos os lados. Precisava ser ganancioso?
É curioso que os "donos" das empresas achem que só a ganancia deles é boa, justa e produtiva. A dos demais não pode, é imoral.
Dizem que Artur Jorge teria ficado chateado por saber que ganhava menos do que seus antecessores e foi pedir um aumento, o que a diretoria achou ofensivo. Se for esse o caso, me parece justíssimo ele querer um reajuste. Nessa sociedade gananciosa ficamos sabendo que somos respeitados quando esse respeito vem em bônus e aumento salarial. Mas, numa SAF, não pode isso aí se vier de funcionários. O lucro do patrão precisa ser grandão; o respeito por quem fez o time viver o melhor ano de sua existência nem tanto.
O que garantiria um mínimo de estabilidade esportiva ao Botafogo de 2025, diante da saída de nomes importantes do elenco, seria a manutenção do trabalho da comissão técnica. Parece que a igualmente estranha saída de Luis Castro no meio do campeonato de 2023 quando o time liderava e encantava não deixou aprendizado. Se perder Jorge, o Botafogo recuará algumas casas. Dizem que um dos nomes sondados para substituí-lo é o de André Jardine, jovem treinador brasileiro que está fazendo trabalhos excelentes no México.
Pode dar bom, mas é uma proposta diferente da experimentada em 2024.
Manter Jorge é a solução mais justa por diversos motivos. Não é um caso de "vamos ver aqui a planilha para saber se temos como aumentar". É a loucura responsável. Mas é também aquela cena que todo trabalhador está cansado de testemunhar: seu pedido de aumento salarial é negado, mas o presidente compra um imóvel novo todo ano. Aumentar o salário do treinador não pode ser um grande problema para um clube que segue contratando embora esteja bastante endividado e faça parte de uma holding que deve R$ 3 bilhões. Contratar menos, negociar apenas o essencial e valorizar a comissão técnica que fez história me pareceria a saída mais segura. Mas o CEO botafoguense gosta mesmo é de emoção. "Tchau, Jorge. Passa no RH e vai com Deus". Se Artur Jorge de fato sair eu diria que o Botafogo perde muita coisa. Mas é SAF, gente. Aqui é planilha, cálculo e retirada de lucro e dividendo.
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