Vamos sorrir. Sorriam
O Brasil que invade o perfil do Globo de Ouro e do Oscar com mensagens de apoio a Fernanda Torres é o Brasil dentro do qual queremos viver. Um Brasil que vai para a janela depois da meia noite berrar a vitória de uma das suas filhas numa premiação gringa do cinema realizada lá longe. O Brasil do meme apaixonado, do delírio na madrugada, da alegria que se recusa a ser ofuscada.
Vamos sorrir. Sorriam.
Alegria é ferramenta de luta. Alegria é terra fértil na qual florescem heroínas e heróis verdadeiros. Alegria é saber que o presente muda o futuro.
Vamos sorrir. Sorriam.
Vamos sorrir na cara dos amantes da tortura e dos torturadores. Vamos sorrir na cara dos homofóbicos e dos misóginos. Vamos sorrir no precário, na injustiça, na arrogância, no descalabro, no descabido, na ausência dos que amamos.
Vamos sorrir.
Só não confundam nossa festa com capitulação. Não aceitamos revoluções tristes. Se não pudermos dançar então essa não é nossa revolução.
Viva Emma Goldman.
Viva Eunice Paiva. Viva Fernanda Montenegro. Viva Fernanda Torres. Viva o Brasil das frestas, o Brasil esquecido, o Brasil que se agiganta na dificuldade e na improbabilidade.
Viva a arte brasileira, que luta para respirar durante governos ditatoriais mas também durante governos liberais. Uma arte que existe na ausência de interesse, de dinheiro, de incentivo.
Vamos sorrir. Sorriam.
Querem saber o que é o Brasil? É o êxtase delirante e transgressor que inunda de amor o perfil de Tilda Swinton em agradecimento pela reação dela ao escutar o nome de Fernanda Torres ser anunciado como vencedor.
Ainda estamos aqui. As pessoas esquisitas, as esquecidas, as silenciadas, as torturadas, as abusadas, as isoladas, as excluídas. Ainda estamos aqui.
Vamos sorrir. Sorriam.
Nesse prêmio a Fernanda Torres a certeza de que a arte, e nada além dela, explica a vida.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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