O que podemos dizer sobre a emoção que a volta de Neymar gerou?
"Tem muita gente chorando aqui. É um momento histórico." "Estamos vendo imagens que mudarão a história." "Neymar ajoelhado no vestiário é uma cena que vai rodar o mundo." "Nunca vi nada igual." "Estou muito emocionado de poder participar dessa transmissão."
Essas e muitas outras frases ditas por homens eu fui colhendo ao longo do dia que ficará conhecido como "NeyDay". Ele foi, mas - como avisou - voltou.
Na literatura, a jornada do herói é o conhecido trajeto do filho que sai de sua terra, roda o mundo, se transforma e volta para transformar a sociedade que o gerou. Há certamente elementos dessa jornada na trajetória do adulto Ney. Ele foi, de alguma forma conquistou o mundo, e voltou. A parte da transformação pessoal que terá impacto na transformação que beneficiará a sociedade talvez não se aplique (ainda?) porque me parece que Neymar não teve (ainda?) a capacidade de olhar para fora de maneira a ser compreendido como os heróis da jornada.
Mas o adulto Ney está no seu caminho que, sob muitos pontos de vista, é um caminho de sucesso. Neymar vai seguir se transformando, não resta dúvida.
O que me intrigou mesmo foi ver a comoção generalizada que a chegada dele gerou. Homens bastante crescidos e até envelhecidos reagindo como as fãs adolescentes de Taylor Swift quando a cantora esteve no Brasil. E somos nós que somos acusadas de sermos emocionalmente descompensadas, seria bom fazer o registro.
Entendo que o futebol mexa com a gente dessa forma. Acho bonito que assim seja. Mas me intriga a reação descompensada na festa da volta de Neymar que não vimos nem com as voltas de Ronaldo ou de Romário - dois campeões mundiais. Uma reação emocionada que eu não tinha visto, aliás, antes do NeyDay.
A pesquisadora Valeska Zanello usa o termo "casa dos homens" para falar de como a cultura heterossexual masculina ensina homens a amarem outros homens desde pequenos. São os outros caras que os inspiram, são os outros caras que eles admiram, são os outros caras que são os heróis e super-heróis deles, são os outros caras que são as pessoas que eles celebram e com quem querem passar o tempo. A maioria dos homens não reage desse modo emocionado - quase desesperado - idolatrando mulheres. Eles reservam esse tipo de devoção exclusivamente para outros homens.
Mulheres são ensinadas as mesmas coisas: a amar, celebrar e honrar os homens. Para outras mulheres, somos ensinadas a reservar desconfiança e rivalidade. Um jogo desequilibrado e injusto que funciona perfeitamente para a manutenção da cultura hetero-patriarcal. Recentemente temos visto o feminismo expor essa desigualdade, mas a verdade é que fomos todas e todos constituídas e constituídos com esses paradigmas e temos que trabalhar para nos reeducar.
Entendo que parte da reação exagerada que vimos por todos os lados com a volta de Neymar se deve aos fatores acima. Alguns dos mesmos que criticam mulheres por serem demasiadamente emotivas não pouparam a comoção exagerada e desenvergonhada durante o Ney Day. Deve ser uma delícia ser homem e poder reagir nesses termos quando assim for de sua vontade.
A outra parte desse exagero eu colocaria na ausência de ídolos no futebol brasileiro.
Neymar foi investido de uma genialidade única para jogar bola. Todos percebem esse talento e, ao perceberem, se encantam. Ele coloca o futebol em seu lugar lúdico, sem regras, sem contornos - e com esse aspecto a gente consegue se relacionar imediatamente. Um jogo que está a cada dia mais careta e engessado é, nos pés de Neymar, um jogo de insurreição. Esse Neymar extraordinário e disruptivo não aparece faz tempo e não sabemos se voltará um dia. Mas contamos com sua volta porque ela poderia nos resgatar.
Esse Neymar revolucionário existe também no imaginário infantil do videogame. As crianças querem ver esse tipo de ousadia em campo. Neymar foi bastante feliz ao usar a palavra ousadia ontem em sua apresentação. Ele sabe que é isso o que queremos dele. Se teremos, ainda não temos como saber. Depende de treinamento, condicionamento, posicionamento. Mas, se para voltar a brilhar ele precisava de afeto, essa parte está feita com sobras e com um tanto de histeria. O resto agora é com ele.
57 comentários
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Magno da Silva Piedade
Essa moça precisa que um amigo a alerte que tá ficando desagradável ela atribuir TUDO, ABSOLUTAMENTE TUDO! a questão feminista , sexista, etc. Que coisa chaaaaaaaaaaaaaata !!!
Luiz Carlos de Moraes Hecker
A coisa é mto simples: o Neimala está em baixa faz tempo, sem mercado em times da Europa, então resolveu voltar pro time q o lançou, onde ele tem a torcida a seu favor. Se ele conseguir jogar razoaavelemente bem no Santos e na seleção, tentará uma volta por cima no exterior, se ñ, o paipai neimala compra o Santos e ele fica por aqui, como o bom moço q prometeu e voltou pro seu time de origem. E os trouxas adoraram!!
Marcel da Silva Sabino
A pergunta que deveria estar sendo feita é qdo Neymar poderá jogar novamente, e em alto nível, com competitividade. Não adianta os cronistas esportivos falarem só o lado positivo, enganando os torcedores santistas, como muitos fazem, Rede Globo a frente. Se se recuperar creio que Neymar pode sim fazer grandes atuações, afinal, o nível técnico aqui é muito mais baixo que na Europa, mas a realidade é que atualmente sua contratação é de risco, uma incógnita, pois há tempos, anos e anos que Neymar optou pelo dinheiro ao invés do futebol.