O Santos não falhou com Neymar, mas Neymar falhou com o Santos
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O Santos deu um all-in em Neymar. Era a retomada. A chance de deixar a série B para trás e se reconciliar com a grandeza dessa camisa. Neymar, um dos maiores que já usaram o manto, chegou a fim de calar a boca dos críticos. Estava disposto, em forma, apaixonado pela chance de devolver o time que o revelou ao palco principal. O mundo parou para acompanhar a volta do craque para casa.
Tudo começou como um conto de fadas. Torcida em transe, Neymar melhorando a cada jogo, gol olímpico, dribles, alegria, ousadia, a crítica elogiando com força a vontade e o talento do atleta.
E aí veio o Carnaval. Jogo no domingo, folga segunda e terça. Neymar com fadiga muscular. Aos 33 anos, voltando de lesão grave que o afastou por quase um ano, era hora de se recuperar para o principal jogo do ano: a semifinal do estadual contra o maior rival.
Neymar provocou corintianos e corintianas. Chamou para o confronto. Brincou. Tudo dentro do que se espera de uma rivalidade imensa. Tudo com leveza. Vai, Neymar.
E então, em vez de se recolher e tratar de descansar para o jogo, foi carnavalizar a vida na folga. Pode? Pode. É de bom tom? Não, não é de bom tom.
O Santos mudou tudo para acolhê-lo. Está reformando o CT, comprou ônibus novo para melhor servi-lo, refez o time, armou uma recepção sem igual, soltou campanhas de publicidade, fez um barulho sem fim para receber "o príncipe".
Era de se esperar que o filho pródigo devolvesse em doses iguais de entrega e respeito.
Neymar tem mais três ou quatro anos em campo. Depois disso pode comprar a Marquês de Sapucaí e inventar um Carnaval em Julho. Pode contratar escolas para desfilarem só para seus amigos em Mangaratiba. Pode carnavalizar a vida de janeiro a janeiro. Custava se resguardar?
Ouço alguns dizendo que não sabemos se ter ido à Sapucaí o prejudicou. Os defensores alegam que precisamos escutar os médicos, que Neymar é vítima de julgamentos vorazes e injustos - o que não é verdade, mas para achar um lugar de crítica justa ao craque seria primeiro preciso parar de venerá-lo acima de todas as coisas e tratá-lo com o rigor que o momento pede.
Precisamos dos especialistas em fisiologia, verdade, mas não precisamos de especialistas em fadiga muscular para compreender que um atleta de 33 anos, voltando de lesão e tendo sentido a coxa no último jogo faria melhor uso do corpo descansando em vez de passar a noite acordado, em pé, dançando.
Neymar teria sido poupado contra o Corinthians para servir a seleção de Dorival. Imagino que não exista um torcedor ou uma torcedora do Santos que esteja feliz com essa escolha. Não foi a CBF que repatriou Neymar. Foi o Santos. E quem o acolheu como filho foi a torcida. Uma torcida machucada, sofrida e carente de conquistas. O Santos não falhou com seu ídolo nem com sua torcida. Mas o ídolo pisou na bola com ambos. E nem foi uma pisada à moda Soteldo. Foi uma pisada feia e sem ritmo.
Neymar é conhecido como um jogador extraordinário, coisa que ele é. Mas também é conhecido por fazer sempre as piores escolhas. Como diz o meme: a pior escolha de Neymar é sempre a próxima. Pode mudar? Torço por isso. O Brasil precisa da ousadia de Neymar. Precisa da inteligência dele. Precisa da criatividade dele. Mas, para voltar a esse lugar que um dia foi muito seu, o craque vai ter que mudar o modelo de pensamento que usa para fazer suas escolhas. E talvez o corpo de conselheiros que está ao seu redor.