Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Neymar: da euforia desmedida à realidade incontestável

A cobertura jornalística realizada por ocasião da volta de Neymar ao Santos um dia será colocada em contexto. Lágrimas ao vivo, declarações de amor, tremedeira. Expressões como "momento histórico", "o ponto alto da minha carreira como repórter", "nunca vi nada parecido" etc foram usadas sem nenhum tipo de acanhamento. O jornalismo estava reagindo ao clamor popular ou estava criando esse clamor? Acho que é um pouco das duas coisas, mas, de qualquer forma, seria importante começarmos a falar do que aconteceu agora que os ânimos se acalmaram.

As mulheres são sempre acusadas de serem exageradas e descontroladas, ou muito sensíveis, mas foram os homens que protagonizaram as maiores manifestações incontidas de descontrole emocional com a volta de Neymar. Era, para muitos, o começo de uma nova era para o craque e, da mesma forma, para o futebol brasileiro já que, por razões misteriosas, alguns acham que Neymar e o futebol brasileiro são a mesma coisa.

Estávamos aqui do lado de fora desse transe pedindo parcimônia; lembrávamos que Neymar estava vindo das arábias e não da Europa, pedíamos que fosse colocado em perspectiva o fato de ele estar sem jogar fazia um ano e que, mesmo antes da cirurgia, ele não vinha bem etc e tal, mas éramos chamadas de mal amadas.

Neymar, argumentavam os que nos xingavam, ia calar a nossa boca mais ou menos da mesma forma que o craque pediu que alguém fizesse com Luana Piovani: "tem que enfiar um sapato na boca dela", disse ele na ocasião.

Neymar chegou chegando. Minutagem, afeto, carinho, dribles, gols, beleza, ousadia. Do lado de fora, êxtase. Uma festa que desconsiderava a qualidade dos adversários e o risco iminente de novas lesões. Quem estava atento, avisou.

E então a realidade bateu: o corpo de 33 anos não segurou a onda e Neymar se machucou. Não esteve na semifinal do Paulistão e foi cortado da seleção.

Os elogios acalorados perderam força quando os fãs souberam que ele, mesmo machucado, foi carnavalizar a vida. Até os mais apaixonados resolveram dizer que o craque pisou na bola.

E cá estamos diante da brutal realidade: Neymar vai ter que escolher entre dedicar todo o seu tempo à recuperação que poderá fazer com que ele volte a brilhar ou seguir se dividindo entre bater uma bola e carnavalizar a vida com os parças. Dentro do futebol atual, aos 33 anos, não existe "vou fazer um pouco de cada coisa".

Neymar é uma ideia. A ideia de um futebol divertido, inteligente, ousado, criativo, transgressor, alegre. É isso o que celebramos quando nos entregamos à euforia de sua volta para casa. É o que queremos ver na seleção, nos nossos times. É o que sabemos que ficou no passado mas pode, quem sabe, voltar. Neymar simboliza tudo isso.

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Esse Neymar com o qual sonhamos, esse com o qual as crianças piram, deixou de existir por volta de 2018. O que joga bola atualmente não é aquele que hipnotizou o mundo no começo dos anos 2010.

Lidar com a realidade é sempre melhor do que lidar com o fanatismo. O fanatismo emburrece; a realidade oferece caminhos para uma solução. Agora estamos diante da realidade que atenuou a euforia descontrolada. A torcida, o Santos, os amantes do futebol, a classe jornalística, os patrocinadores aguardam. Atentos, esperamos que Neymar faça suas próximas escolhas na vida e, quem sabe, possa ter mais uns três ou quatro anos de genialidade em campo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

35 comentários

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Carlos Fernando Amaraljúnior

Quando é que Neymar foi um grande craque? O grande craque não é aquele que faz jogadas de efeito, chapéus, lambretinhas, drible da vaca, etc. O grande craque é aquele que protagoniza grandes conquistas por onde passou e se comporta como atleta, não como vedete. Infelizmente esta é a realidade. Eu preferia dizer que foi o maior talento desperdiçado do futebol brasileiro. Lembram de Renê Simões em 2009? "Estamos criando um monstro, ninguém vai segurar este rapaz". Ele estava certo. Além de tudo, o seu grande mentor intelectual foi o pai, indivíduo completamente desprovido de caráter. Fico admirado de ver o Santos traze-lo de volta, depois de ter sido vítima de uma saída traiçoeira pela porta dos fundos, no episódio da contratação pelo Barcelona. Neymar acabou, há muito tempo. Aliás, nunca passou de um grande marqueteiro, sempre jogou menos do que se achava e agora vai curtir seu dinheiro, a única coisa que lhe resta, mas que um dia pode acabar.

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Kleber Barbosa Junior

A Lacombe ainda "espera"...enquanto isso, o "craque" participou na última segunda de mais umaorgia com aquelas "profissionais" de verdade...

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Eduardo Lima de Moraes

NeyPipoca é Tri Eliminado de Copas do Mundo. Chega desse assunto.

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