Em discurso covarde e dissimulado, Conmebol lava as mãos sobre racismo
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Eu não posso deixar de falar do racismo. Foi com essas palavras que Alejandro Domínguez, o presidente da Conmebol, começou a discursar sobre o tema durante o sorteio da Libertadores. Se soubéssemos o que ele cuspiria em seguida talvez alguém pudesse ter gritado na plateia: deixa sim de falar.
Basicamente ele disse o seguinte: o racismo é um problema da sociedade, não do futebol. E a Conmebol faz tudo o que está a seu alcance. Só que isso não é suficiente, segundo ele, porque o racismo está enraizado na sociedade. E aí vem a cereja desse bolo: a Conmebol decidiu convocar as autoridades das nações afiliadas (quais autoridades?) e os presidentes das associações-membros com o objetivo de achar soluções. É o famoso: vamos dar uma complicada aqui, chamar um monte de executivo branco, entrar numas salas de reuniões, tomar uns cafés e uns uísques, fingir que estamos debatendo o racismo até que vocês parem de fazer escândalos aí do lado de fora.
É acrescentar covardia à infâmia. É rir das nossas caras. É a mais absoluta falta de noção somada a um imenso: danem-se vocês e a luta antirracista.
A Conmebol não precisa desse bla-bla-blá. Ela pode atuar de imediato. Pode se implicar. Pode parar de apontar o óbvio: que o racismo é um problema social. Sim, é. Mas e aí? Então ninguém precisa se implicar na solução? Podemos relaxar e ir descansar? A sociedade, essa coisa abstrata, quem faz?
O senhor Alejandro poderia anunciar que o clube cujo torcedor cometeu atos racistas estará eliminado da competição por cinco anos. E terá que pagar uma multa assombrosa que ele nem terá como pagar mas será obrigado mesmo assim. E que será também forçado a se educar sobre o tema. Assim como estarão obrigados desde já todos os funcionários da Conmebol, e juízes associados, a se educar sobre o tema. Aulas, palestras, provas, aprovação ou reprovação.
Tudo isso poderia ter sido dito, mas não foi. O senhor Alejandro preferiu vomitar um discurso alienado e certamente escrito por pessoas brancas sem nenhum tipo de vergonha aparente. A Conmebol é indefensável e enquanto os mesmos dirigentes de sempre liderarem o futebol no mundo nada de fato mudará. O racismo e o machismo serão tolerados, apoiados e, na medida em que geram mais receitas, até celebrados.