A seleção brasileira joga para quem?
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O Mané Garrincha, em Brasília, estava bem cheio para ver a seleção brasileira. Fazia um tempo que a seleção não jogava dentro de um estádio lotado. Estádios lotados são sempre esperança de jogo emocionante. Ou eram. Com os ingressos vendidos a preços absurdos, quem frequenta estádio hoje é cliente e não torcedor. E cliente quer se sentir satisfeito. Cliente não terreiriza o espaço. Cliente assiste jogo sentadinho. Aplaude aqui e ali, vaia sem cerimônia.
O Movimento Verde e Amarelo é um sintoma desses tempos protocolarizados. Uma torcida que torce certinho, comportadinha, com regras e normas. Todo mundo vestidinho com a mesma roupa zebrada. Com muito orgulho, com muito amor e uma boa dose de adestramento corporal.
Em campo, os protocolos táticos seguem sendo respeitados. Hoje jogamos de forma comportada. Endrick e Estevão, dois jovens que emprestam alegria ao jogo e ainda não foram devidamente entristecidos por treinadores posicionais, veem o jogo do banco. Um futebol que não empolga absolutamente ninguém. Rodrygo marca. Vini volta. Raphinha faz pressão no ponta colombiano perto da bandeirinha no campo de defesa do Brasil. Pobre movimento verde e amarelo que tem que achar euforia nesse cenário sem vida.
A Colômbia, que jogou mal mas é um bom time, fazia linha de passe dentro da nossa casa. O Brasil, passivo, assistia.
Esse time joga para quem, por que e com qual propósito? Vencer. Basicamente esse é o objetivo. Jogar bem não entra nem mais em debate. Joga aí como der, mas não perde. Perder machuca patrocinadores.
Nenhum adversário mais tem medo da camisa amarela, associada a tantos descalabros. Os times que enfrentam o Brasil entram em campo com imponência. Os juízes, eles sim, ainda respeitam. Na dúvida, vai para o time de amarelo.
É sempre uma experiência triste ver a seleção brasileira jogar. Para quem viu 82 e 86 eu diria que é ainda mais triste. Mas é o que temos. A CBF é uma empresa que se preocupa mais com o EBITDA do que com lutas sociais como a antirracista e a anti-machista. Estamos largados a nossa própria sorte. Passamos pelas data-Fifa querendo que elas acabem logo e nossos times voltem a jogar. Mas nem tudo é notícia ruim: depois do jogo contra a Argentina a seleção da CBF só retorna aos gramados em junho.
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